Solenidade da Ascensão do Senhor
Depois de quarenta dias da sua ressurreição, celebramos o mistério da Ascensão do Senhor. Os relatos bíblicos apontam para a verdade teológica de que Cristo, depois de ter falado e convivido com os discípulos, foi arrebatado ao céu, em corpo e alma, e sentou-se à direita de Deus.
Tal verdade de fé não é acidental, e possui um caráter teológico essencial para a compreensão do próprio mistério da Redenção humana, quista por Deus. Com efeito, como ressuscitado, Cristo já havia sido glorificado, como apontam os relatos bíblicos. Mas, nestes 40 dias em que convive e exorta os discípulos, os instruindo para a Igreja que surgiria, permanece em glória ainda velada. O mistério pascal, que abre as portas dos céus aos homens, atinge sua plenitude na ascensão do Senhor.
“Esta última etapa permanece intimamente unida à primeira, isto é, à descida do céu realizada na Encarnação. Só aquele que ‘saiu do Pai’ pode ‘retornar ao Pai’: Cristo.” O homem, entregue à própria sorte, não poderia acessar à vida e à felicidade de Deus. Mas com a ascensão do Senhor aos céus, esta porta é aberta ao homem, para que, como membros do único corpo de Cristo, vivam na esperança da vida eterna.
O mistério pascal, atingindo seu ponto elevado, com Cristo sentado à direita de Deus Pai, inaugura, assim, um tempo em que Ele pode, como mediador, interceder por nós. Sentar-se à direita de Deus Pai significa “a glória e a honra da divindade, onde aquele que existia como Filho de Deus antes de todos os séculos como Deus e consubstancial ao Pai se sentou corporalmente depois de encarnar-se e de sua carne ser glorificada.”
Cristo, sentado à direita de Deus, inaugura o seu Reino, um Reino que não terá fim. Na Ascensão, a humanidade é elevada ao mais alto grau de sua dignidade, e, com Cristo reinando definitivamente nos céus, tendo consigo as chaves da morte, pode interceder em nosso favor aqui na terra, enviando-nos o dom do Espírito Santo, que nos auxilia e nos impulsiona, até que cheguemos, definitivamente, a reinar com Cristo, em corpo e alma, nos céus.
O que a gloriosa partida do Senhor tem a nos ensinar?
Um primeiro aspecto a ser levado em conta na vivência interior de tão sublime mistério, é a constatação de que, com a Ascensão do Senhor, a humanidade finalmente entrou no céu. É motivo de esperança e de consolo constatar que, mesmo diante de tantos males, de tantos sofrimentos neste vale de lágrimas, o gênero humano possui salvação. Cristo já venceu! E com Ele, a Igreja pode cantar e se rejubilar, pois possui a certeza da fé de, com o auxílio do Paráclito, prometido por Cristo, vencer cada obstáculo que se apresentar no caminho. A exemplo dos primeiros cristãos, se alegar por ser considerado digno de sofrer pelo nome do Senhor.
Outro grande aspecto, que os discípulos entenderam, e que a Igreja deve entender em todos os tempos, é o de renovar o seu ardor missionário. A missão tem urgência! A salvação dos homens é urgente. Assim como os Atos dos apóstolos elucidam, não pode a Igreja correr o risco de, ficando presa em vicissitudes acidentais, olhando ingenuamente ao céu, esquecer-se que os homens podem se perder e serem condenados ao inferno por não possuir quem anuncie a eles a salvação que se dá em Cristo Jesus. Hoje, mais que nunca, o aspecto missionário precisa ser renovado, com a mesma ousadia que os primeiros cristãos tiveram, mesmo que ante sofrimentos, perseguições e censuras.
Por fim, mesmo que não saibamos nem o dia nem a hora em que Cristo voltará, não quer dizer que devamos viver despreocupados. A salvação é urgente! A nossa e a de nossos irmãos, pois os tempos são abreviados, como diz São Paulo. Não podemos correr o risco de sermos surpreendidos pelo Senhor, que virá, da mesma forma gloriosa com o qual subiu aos céus, mas virá como um ladrão. Devemos viver no mundo, sem ser dele, nos preparando para com Cristo reinar, à direita de Deus Pai. Viver no mundo, evangelizar e salvar a tantos quantos pudermos, mas sem esquecermo-nos de permanecer com nossos olhos da fé, sempre fixos no Senhor.