A Província
Província da Imaculada foi criada há 336 anos
A primeira missa celebrada nas “Terras de Santa Cruz” foi presidida por um frade franciscano, frei Henrique Soares de Coimbra, coadjuvado por mais sete confrades da mesma ordem. Desde então, vários filhos de São Francisco aportaram esporadicamente nas novas terras, ainda antes da chegada dos jesuítas, em 1549. O ingresso oficial dos franciscanos se deu somente no dia 12 de abril de 1585, quando o Ministro Geral, cedendo aos insistentes apelos das autoridades e dos colonos, enviou a Olinda um grupo de oito religiosos, provenientes da Província de Santo Antônio dos Currais, em Portugal.
A Custódia de Santo Antônio do Brasil, como passou a se chamar a entidade, cresceu rapidamente. Trabalhos não faltavam, seja entre os colonos seja entre os índios e os escravos. A partir da sede, em Olinda, vários conventos foram sendo fundados, a maioria na extensa costa litorânea. Em novembro de 1589 chegavam a Vitória, no Espírito Santo, e em 1592 já faziam visitas ao Rio de Janeiro, onde se instalaram oficialmente em 1608. As imensas distâncias a serem percorridas exigiam uma reorganização administrativa. Em 1649, os superiores brasileiros conseguiram que a Custódia se tornasse independente da Província de Portugal. O próximo passo foi transformar a Custódia em Província, o que foi conseguido em 1657. Na mesma ocasião, a Província conseguiu que os conventos do Sul formassem uma entidade autônoma, constituindo a Custódia da Imaculada Conceição. O passo seguinte se deu após intensas negociações em Portugal e Roma: no dia 16 de julho de 1675, pelo breve “Pastoralis Officii”, do Papa Clemente X, a Custódia da Imaculada era ereta em Província autônoma, com o título de Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.
A nova entidade tinha sua sede no Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, cidade que aos poucos se destacava no cenário colonial. Também no Sul do Brasil, os franciscanos tiveram um vasto campo de atuação, trabalhando nas missões com os índios, atuando como capelães das forças do governo, auxiliando os párocos na cura d’almas, ou simplesmente atendendo aqueles que os procuravam nas suas igrejas, para a celebração da eucaristia, sempre com uma palavra amiga nas portarias ou um conselho oportuno no confessionário.
A restauração
A Província da Imaculada Conceição, criada em 15 de julho de 1675, teve sua sede no Convento Santo Antônio do Rio de Janeiro, que também abrigava os estudos de filosofia e teologia. Era do Convento Santo Antônio que os frades partiam em missão pelo território hoje abrangido pelos Estados do Rio e Minas, pelo Sul da Bahia e pelo Vale do Paraíba, sem esquecer algumas missões específicas no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso, às vezes acompanhando as tropas como capelães, às vezes integrando delegações oficiais de reconhecimento do território brasileiro.
Depois de florescer em santidade e trabalhos apostólicos (chegou a ter, em 1777, 305 frades) e frutificar abundantemente (teve papel fundamental na independência do Brasil), a Província entrou em decadência forçada por muitas causas, chegando a um único frade sobrevivente no momento em que se proclamou a República, em 1889. Veio a nova Província, não qual fênix renascida das próprias cinzas, mas reconstruída pelo ardor missionário da Província de Santa Cruz da Saxônia, Alemanha. Os primeiros missionários (Frei Amando Bahlmann, Frei Xisto Meiwes, Frei Humberto Themans e Frei Maurício Schmalor) começaram a obra de restauração no vilarejo de Teresópolis, em Santa Catarina, hoje apenas Capela da paróquia de Santo Amaro da Imperatriz. Começaram com os pés no chão, a esperança em Deus e o mais quente zelo apostólico.
Chegadas outras levas de Frades alemães, foram assumindo Lages, Blumenau, Rodeio, Gaspar. Todo o Estado pertencia ainda à Diocese do Rio de Janeiro. Não estranha, então, que, em 1896, tenham aceito Petrópolis, cidade vizinha do Rio, fundada por alemães. Com a criação da diocese de Curitiba, os frades acolheram, em 1905, o convite para fundar um Convento na cidade. Aos poucos, pela necessidade de pouso nas missões itinerantes, pela convocação de bispos, pelo convite promissor de algumas cidades pastoralmente necessitadas, foi-se estendendo a rede da presença franciscana no Sul do Brasil.
Os missionários alemães encontraram aqui a terra boa para o plantio. Os Estados do Sul estavam sendo beneficiados pelos colonos alemães, italianos e poloneses. Os frades se afinaram muito com eles. Bem, logo chegaram as vocações de dentro daquelas famílias. A Província abriu um seminário em Blumenau, transferido nos anos 20 para Rio Negro, no Paraná. Abriu o noviciado em Rodeio, onde permanece até hoje e, anualmente, com novos noviços. Abriu o curso de filosofia em Curitiba, e o curso de teologia em Petrópolis. Nos anos 40 e 50 se precisaram novos seminários e surgiram os de Guaratinguetá, Luzerna, Rodeio (depois transferido para Ituporanga) e Agudos. Como as colônias eram carentes de escola, os seminaristas tinham a possibilidade de fazer os últimos dois primários, o ginásio e o colegial no seminário, dando-lhes tempo de maturar a vocação, crescer numa fé sadia e fazer livremente a escolha.
Característica dos missionários alemães era a preocupação com a escolaridade. Éramos um país sem escolas. Antes de construir a igreja, os franciscanos tinham o costume de levantar a escola da comunidade. Fundou-se até uma Congregação de Irmãs (as Catequistas) para as escolas rurais. Algumas escolas cresceram muito, como o Colégio S. Antônio de Blumenau, o Diocesano de Lages, o Bom Jesus de Curitiba. Há um fato curioso: a Escola gratuita São José, de Petrópolis, gerou o Instituto dos Meninos Cantores e a Editora Vozes. Não se pode escrever a história da Igreja no Brasil, sem citar a Editora Vozes, fundada em março de 1901, com uma finalidade específica: fornecer livros escolares, manuais de catequese e de reflexão científico-religiosa.
Através do heróico espírito missionário dos Franciscanos alemães e das generosas vocações brasileiras, a Província da Imaculada chegou a ser durante muitos anos a terceira mais numerosa da Ordem e, no momento, a mais numerosa. Deu à igreja do Brasil uma vintena de Bispos, entre os quais o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. E deu à Ordem um Ministro geral, Frei Constantino Koser, e um vice-geral, Frei Estêvão Ottenbreit. Sem esquecer teólogos e escritores de alcance nacional e internacional.
A grande prova da maturidade da Província a tivemos em 1991, quando ela assumiu a Missão de Angola, em momento extremamente difícil para aquele país africano, então em violenta guerra civil.
Neste ano de 2011, a Província conta com 387 membros. E certamente foi e continua sendo protegida por seus muitos filhos que já estão na eternidade, particularmente aqueles que morreram em fama de santidade, como Frei Galvão, Frei Fabiano de Cristo, Frei Rogério Neuhaus, Frei Bruno Linden, Frei Silvério Weber e tantos outros.
(cf. textos de Frei Sandro Roberto da Costa e Frei Clarêncio Neotti, na Revista “Província da Imaculada Conceição”)