Você não sabe o que fazer com seus dias? Tente aprofundar seu relacionamento com Deus
Deus ama os homens um por um, nunca “em bloco”. Ele nos une como um povo, mas esse povo é composto de pessoas únicas, com as quais ele deseja viver uma história de amor totalmente nova. Deus nunca cria dois seres iguais, e nunca nos ama com amor comum. Quando Jesus falou às multidões, todos ouviram a mesma coisa, mas cada um foi tocado pessoalmente, de uma forma diferente. É o mesmo Evangelho que é dado a todos nós, mas cada um o recebe com as graças que lhe são próprias, de acordo com a vocação que é sua e que não interessa aos outros. É um segredo nosso com o Senhor.
Cada pessoa tem um relacionamento especial com Deus
Deus dá a cada um o que é melhor para esta pessoa, e somente para ela, no devido tempo. Ao longo de nossas vidas, ele nos revela pacientemente e com discernimento aquilo que vamos sendo capazes de entender. Ele nos faz avançar em nosso ritmo, de forma que não precisamos nos comparar com ninguém. Não cabe a nós medir, nem muito menos controlar aquilo que Deus deseja realizar em nós. Muitas vezes, isso acontece sem o nosso conhecimento: nunca sem nós, nunca apesar de nós, mas de maneira tão discreta que nos escapa! Dessa forma, quando rezamos, o mais importante não é o que é visto no exterior, nem mesmo aquilo que percebemos do nosso interior. O mais importante é o silencioso trabalho de Deus “mais íntimo de nós do que nós mesmos” (Santo Agostinho).
Deus não se impõe. Ele sempre se dirige a nós com grande discrição, a fim de respeitar nossa liberdade. Ele nunca tenta nos prender ou foçar a sua vontade sobre nós. “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (1 Ap 3, 20-21). Se ninguém abre, Deus fica na porta, pois ele nunca nos força a recebê-lo. Ninguém pode saber se eu abri minha porta ao Senhor, ou até que ponto eu a abri. Da mesma forma que eu não sei se os outros o abriram, mesmo quando estão muito perto de mim (marido, filhos, amigos).
Aproveite o silêncio para ouvir melhor o Senhor
Deus não faz barulho para não nos assustar. Ele não se esconde, mas se faz muito pequeno, para não humilhar aquele a quem se dirige. Para revelar-se a nós, ele se fez homem “manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). Sua palavra não é estrondosa, mas suave “como uma brisa leve” (1 Reis 19, 12). Devemos, portanto, ficar em silêncio para ouvi-lo e adentrar na morada do nosso coração. “Quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente” (Mt 6, 6).
Nós não nos retiramos “para as profundezas de nossa casa” para permanecermos enclausurados, fechados em nós mesmos ou aconchegados em uma confortável conversa com Deus. Entramos em nós mesmos para receber tudo o que nos permitirá agir e amar nossos irmãos, no concreto da vida cotidiana. O confinamento, precisamente, pode ser um período favorável para descobrir o esplendor do silêncio e provar a alegria de um momento de solidão ou mesmo para descobrir o sabor da leitura.
Envolvendo as crianças
A educação sobre a interioridade pressupõe grande discrição de nossa parte. Se somos pais, devemos permitir que cada um de nossos filhos ouça e responda ao chamado de Deus. Mas não precisamos saber o que eles vivem de coração para coração com Deus, mesmo quando são pequenos. Não é necessariamente fácil. Porque temos que estar atentos e disponíveis para poder ajudá-los quando e como eles precisam e, ao mesmo tempo, permanecer respeitosamente no limiar de seu jardim secreto.
*Texto de Christine Ponsard.