Frei Moser celebra jubileu em Gaspar
A comunidade católica de Gaspar teve um fim de semana muito especial, nos dias 12 e 13 de dezembro de 2015, com a celebração do jubileu de 50 anos de vida sacerdotal de Frei Antônio Moser, frade natural desta cidade. Oficialmente, Frei Moser completou 50 anos no dia 15 de dezembro.
Além de celebrar com os familiares e sua comunidade natal, Frei Moser também festejou seu jubileu no dia 22 de novembro, com uma missa na Igreja Santa Clara, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde reside.
Em Gaspar, no dia 10 de dezembro (uma quinta-feira), Frei Moser reuniu a comunidade para falar do momento atual da Igreja e a experiência de ter conhecido de perto o Papa Francisco. Até o domingo, 13, a comunidade pôde conhecer um pouco da vida consagrada de Frei Moser, mostrada em uma exposição.
O grande momento solene destas comemorações foi a Celebração Eucarística no domingo, 10 horas. O pároco Frei Germano Guesser fez a acolhida e apresentou o seu confrade. “Estamos aqui reunidos para render graças a Deus pelo jubileu de 50 anos de vida sacerdotal de Frei Antônio Moser. Assemelhar-se cada vez mais ao Coração Sacerdotal de Cristo Pastor, é o desafio maior de todo sacerdote. Jesus entregou em nossas mãos sacerdotais a ação de realizar a transformação do pão em Seu Corpo e do vinho no Seu Sangue. Por isso, resumidamente, gostaria de falar um pouco de sua caminhada nesses 50 anos de vida sacerdotal”, explicou o pároco.
Frei Germano contou que Frei Moser nasceu no bairro de Gaspar Grande em 29 de agosto de 1939, fruto da união de Elisabeth e Angelo Moser. “Ele vestiu o hábito franciscano em 19 de dezembro de 1959 e foi ordenado sacerdote no dia 15 de dezembro de 1965, portanto ele está celebrando aqui, conosco, 50 anos de sacerdócio”, frisou.
“Frei Moser, hoje, é considerado um dos teólogos mais importantes do mundo, podemos dizer assim, tendo em vista que ele foi o único teólogo brasileiro a ser nomeado pelo Papa Francisco para participar do Sínodo da Família, encerrado em outubro último. Ele participou deste importante acontecimento da Igreja atual ao lado de dois cardeais, 4 bispos e quatro leigos do Brasil. Sem dúvida, um dos momentos que marcará, se já não marcou, a sua vida sacerdotal e religiosa”, elogiou Frei Germano.
Frei Moser é doutor em Teologia, com especialização em Moral, pela Academia Alfonsianum, em Roma, e leciona Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis, a última etapa de formação dos frades da Província da Imaculada. Frei Moser é também diretor da Editora Vozes, hoje a mais antiga editora católica do Brasil, fundada no dia 5 de março de 1901. Há 17 anos, completados exatamente no último dia 9 de dezembro, ele desempenha essa função com muita competência. “Além de diretor de uma editora, ele é um autor de 27 livros, nem sempre com temas de Teologia Moral, sua especialização. Um desses livros é ‘Colhendo Flores entre Espinhos – Ciência e atitudes pessoais garantindo um envelhecimento com qualidade’, onde ele lembra que não se deve ter ‘compaixão’ das pessoas envelhecidas, mas, sim, olhá-las como pessoas que chegaram ao topo da montanha, de onde têm todo um horizonte descortinado”, acrescentouu o pároco, lembrando que ele tem livros traduzidos para outras línguas (Teologia Moral impasses e alternativas; O enigma da esfinge, a sexualidade; Biotecnologia e Bioética: para onde vamos; Ecologia: desafios éticos etc) e participou por nove anos do programa “Em pauta”, da Canção Nova.
“Frei Moser é assim: esbanja vitalidade e, para ele, não tem tempo ruim. Tanto que ele é também pároco da Paróquia de Santa Clara, em Petrópolis, que fica próxima do Instituto Teológico e diretor do Centro Educacional Terra Santa, uma entidade assistencial que atende crianças e jovens carentes em Petrópolis. Ainda sobra tempo para ele ser um conferencista no Brasil e no exterior…”, emendou
Frei Germano também informou, em primeira mão, que em vista do Jubileu, Frei Moser vai participará do programa na Canção Nova: “Pelos caminhos da fé’, no dia 6 de março, às 22 horas. Trata-se de um novo programa no qual Frei Moser é o primeiro personagem. Depois, semanalmente, o programa terá outros personagens. Vocês poderão ver depoimento de pessoas das 16 comunidades que ele construiu.
Jornal Cruzeiro do Vale: Qual a sensação de estar retornando a Gaspar para uma data tão especial como os 50 anos de sacerdócio? Quais as principais lembranças que guarda da cidade até hoje?
Frei Antônio Moser: Saí criança de Gaspar e só retornava esporadicamente. Entretanto, ao longo destes anos todos, Gaspar sempre esteve no meu coração. Cada passagem significava sempre uma injeção de ânimo na minha vocação. Vendo a Igreja cheia, o povo rezando e cantando com fervor, sempre senti que ao menos em Gaspar a fé continua viva. Ao lado disso, naturalmente as lembranças se ligam à minha infância, quando ajudava a missa do “tio” Frei Solano Schmitt e acompanhava Frei Godofredo. Todos os franciscanos que conheci em Gaspar me marcaram positivamente, mas esses dois foram os que deixaram marcas mais profundas. Tio Solano como o homem piedoso e de uma bondade que cativava a todos. Frei Godofredo era a expressão do empreendedor zeloso e corajoso. De alguma forma, como criança, acompanhei a construção da Igreja de Gaspar, tendo inclusive participado de uma pré-inauguração em 1950, quando todos foram convidados a vir com seus animais: cavalos, bois… Eu atravessei a nave da Igreja ainda não acabada montado a cavalo. Ora, acho que aqui está uma explicação do porque consegui conciliar a vida intelectual, escrevendo 27 livros e inúmeros artigos com a vida pastoral direta. Ao todo estive à frente da construção total ou parcial de nada menos do que 16 comunidades de fé, que hoje constituem três paróquias. Eu continuo páraco da Santa Clara.
CV – O senhor ainda mantém familiares aqui?
Moser: Só vive ainda minha irmã religiosa, Irmã Maria, que está em Itajaí com seus 82 anos. Todos os outros irmãos são falecidos. Mas é claro que sobram numerosos sobrinhos e sobrinhas, sem falar de primos e outros parentes. Sempre que passo, ainda que rapidamente por Gaspar, procuro dar a eles um alô. Meus parentes sempre me apoiaram em tudo.
CV: Recentemente, o senhor participou do Sínodo dos Bispos, no Vaticano. Como foi ter um contato tão próximo com Papa Francisco? De que forma enxerga os posicionamentos do papa?
Moser: Desde criança sempre tive muita devoção a Santo Antônio. Pela sua intercessão sempre consegui tudo o que pedi. Mas nunca tinha pedido e nunca tinha imaginado que um dia receberia um convite tão extraordinário, e logo do Papa Francisco, para participar de um Sínodo dos Bispos sobre a Família. No início, pensei que fosse brincadeira. Foi uma experiência extraordinária. Ali estavam presentes 270 bispos do mundo inteiro, representantes de Igrejas cristãs não católicas, leigos, discutindo com toda a liberdade, representantes de tantas culturas e ritos diferentes, que parecia um verdadeiro Pentecostes…
Quanto ao Papa Francisco: circulava livremente entre nós, deixando-se fotografar, tomando café com a gente, criando um clima ao mesmo tempo de liberdade de expressão e de fraternidade. Aconteceu um grande milagre, mais importante do que o próprio texto, que ainda vai ser traduzido para o português: todos desceram dos seus tamancos. Patriarcas, Cardeais, arcebispos, bispos, peritos, leigos, todos convivendo na maior simplicidade. Que beleza. Esse é o novo Francisco de Assis que irradia uma energia poderosa de paz e alegria evangélica. Suas tomadas de posição não apenas são corajosas, mas traduzem a Igreja de Jesus Cristo nos seus primórdios: todos tinham tudo em comum, mesmo em meio a eventuais divergências. Não é teólogo de profissão, não é administrador formado, não é grande orador, mas fala e age como quem tem autoridade. E por isso mesmo está conseguindo transformar uma igreja do “não pode”, “não deve”, numa Igreja do “sim” de Maria.
Fotos e entrevista: Jornal Cruzeiro do Vale