Frei Medella ensina como construir unidade na diversidade
No terceiro dia do Tríduo da Festa de São Pedro Apóstolo, Frei Gustavo Medella fez sua reflexão sobre o tema “Pedro, pedra de unidade, nos chama à Comunhão”. Confira a íntegra:
Estimados irmãos, amadas irmãs, vivemos tempo da diversidade. São muitas as tribos, inúmeras as bandeiras levantadas, diversos os pontos de vista e interesses defendidos. Se fôssemos usar uma gíria, é como se vivêssemos em um verdadeiro “balaio de gato” onde, com “tudo junto e misturado”, vamos tentando sobreviver. E um ambiente que ilustra bem esta situação de nosso tempo é a internet, que não pode mais ser resumida como uma simples rede de computadores. Ela é, ao mesmo tempo, praça, estádio, cinema, loja, mercado, mesa de jogos, lugar de namoro, de conhecer pessoas novas, de se encontrar com conhecidos e desconhecidos.
E esta configuração que acontece no que chamamos de mundo virtual, que quase sempre é mais real do que imaginamos, se estende para os outros ambientes da vida, como por exemplo, no seio das famílias. Só para citar o caso da religião, hoje em dia já é natural que, sob o mesmo teto, haja uma mãe católica, um pai espírita, uma filha evangélica, um filho ateu e um outro filho, que até acredita em Deus, mas não tem religião.
Até mesmo entre nós, cristãos católicos, quantas diferenças: são grupos, movimentos, modos de concepção de Igreja que têm discursos muito variados, passando pela Renovação Carismática Católica, os Movimentos, as novas comunidades, a Teologia da Libertação. Agora, fica a pergunta: diante de tantas diferenças, direcionamentos de vida e valores quem compõem este caldeirão da nossa existência, como podemos falar em unidade?
Vamos buscar o auxílio nas leituras de hoje. Primeiro, é importante ter a consciência de que unidade não significa uniformidade. Uniforme, o nome já diz, pressupõe uma igualdade, como a de um pelotão de soldados, onde todos se vestem da mesma forma, andam para a mesma direção e cantam as mesmas músicas.
Unidade vai para além: é conseguir encontrar pontos em comum nas diferenças, naquilo que é diverso, múltiplo, variado. O casamento é uma instituição que se pauta no vínculo da unidade. Esposo e esposa são diferentes, duas individualidades que se unem a partir do amor que decidiram cultivar juntos.
E, na vida de Igreja, nosso vínculo de unidade é a fé em Cristo. E, por isso, nosso Tríduo teve esta linha de condução: Pedro, pedra de tropeço, nos chama à conversão. Converter-se é tomar ciência das próprias limitações e buscar voltar-se de corpo e alma para Deus. Pedro, Pedra fundamental, nos chama à fé: “A fé é o grande cimento que o Espírito Santo desperta em nós para que, no processo de conversão, caminhemos em direção à unidade”. Pedro, Pedra de Unidade, nos chama à comunhão. E a unidade, conforme estamos refletindo é a construção conjunta do Reino de Deus, que reúne pessoas diferentes e únicas que se unem na missão confiada pelo Senhor.
Para concluir, vamos olhar com atenção para duas posturas que ajudam a construir a unidade:
A primeira é a generosidade. Conforme ouvimos na primeira leitura, dos Atos das Apóstolos, os cristãos tinham um coração profundamente generoso. Tudo que possuíam colocavam em comum, repartiam, sem preocupação e reter nada para si. Quanto mais generosos conseguirmos ser, tanto mais estaremos caminhando em direção à unidade de uma vida integrada, de comunhão com Deus e com os irmãos. Como nosso mundo se ressente pela falta de pessoas de coração generoso! Como cristãos, somos sempre convidados a engrossar as fileiras daqueles que têm o coração sempre aberto e disposto para partilhar os bens e partilhar-se nas ações em benefício do outro.
A segunda postura é a persistência no amor: Jesus pergunta três vezes a Pedro: “Tu me amas?” O Senhor sabia do amor que o Apóstolo nutria por ele. Mas quis mostrar a Pedro, e deseja mostrar a cada um de nós, que o verdadeiro amor é uma resposta diária, que se renova no feijão com arroz que partilhamos todos os dias. É uma postura de vida que precisa ser firmada e confirmada no decorrer da existência.
Pedro, pedra de unidade, nos chama a comunhão. Peçamos ao Senhor que, através do exemplo de nosso padroeiro, nos inspire sempre passos largos e confiantes na construção de um mundo de partilha, paz, justiça, unidade e comunhão. Louvado seja nosso Senhor, Jesus Cristo!