Frei Germano se despede de Gaspar
Moacir Beggo
Nesta quarta-feira, a Igreja Matriz de São Pedro Apóstolo de Gaspar (SC) lotou mais uma vez para a celebração da Novena Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Mas a celebração também ficou marcada pela despedida do Pároco Frei Germano Guesser, que depois de 12 anos deixa a Paróquia para assumir um novo desafio: a Igreja Santo Antônio do Pari, em São Paulo.
Frei Germano não vai fazer uma despedida oficial, mas aos poucos tem se despedido do povo gasparense nas celebrações. Depois de fazer este agradecimento na Quarta-feira de Cinzas, ontem ele voltou a emocionar as pessoas: “Procurei, dentro dos meus limites, trabalhar pela fé, anunciando a Palavra de Deus, partilhando os sacramentos, sobretudo o Sacramento da Eucaristia. A fé, esse bem espiritual do povo, foi sempre a minha principal preocupação”, disse, ganhando aplausos dos fiéis.
VEJA NA ÍNTEGRA O SEU DISCURSO DE DESPEDIDA
Transformar em palavras os sentimentos nem sempre é fácil para mim. Sempre acho que não conseguirei transmitir exatamente aquilo que gostaria. Parece que fica faltando alguma coisa. Mesmo assim, tentarei dizer, mesmo com simplicidade, algumas palavras a esta comunidade que me acolheu com tanto carinho e que me fez realizar plenamente no ministério sacerdotal. Confesso que dizer até logo é dolorido dentro dos limites humanos, mas totalmente superável com a graça divina e a oração.
Não deveria ser assim, pois quando ingressamos na Ordem Franciscana e fazemos a primeira profissão, escolhemos um modo de vida missionário, como foi desde o início com os primeiros discípulos de São Francisco de Assis. Estamos sempre em saída. Deixar tudo e se entregar completamente nas mãos do Senhor exige fé e uma constante disposição de renovar aquele “sim” que dissemos lá no início de nossa vocação. No entanto, o padre é um ser humano, sujeito a tentações, fraquezas, emoções e sentimentos. Então, vocês podem imaginar o quanto é difícil dizer adeus, até breve!
Fui apresentado a esta Paróquia no dia 21 de dezembro de 2003 na missa das 19 horas na Igreja Matriz, portanto, em doze anos estabeleci laços de carinho, amor e fraternidade. Fui acolhido como muito afeto (e que povo acolhedor é o gasparense!), e posso afirmar que fui uma pessoa feliz nesta caminhada com o povo de Gaspar. Agradeço a Deus por me ter concedido a graça de morar em Gaspar…. Sempre ouvia comentários sobre Gaspar e pensava: “Um dia gostaria de morar lá”…
Neste tempo aqui em Gaspar fui Vigário Paroquial por seis anos, guardião da Fraternidade por nove anos, Pároco por seis anos e Definidor Provincial por três anos. Mas a principal obra para qual eu me doei foi a construção do Reino de Deus. Claro, essa construção jamais existiria dentro dos meus limites e da minha pequenez, mas foi possível graças à comunhão e participação de todos. Por isso, sou grato a todos. Em primeiro lugar a Deus, à Igreja de Cristo, à Ordem Franciscana e a Província Franciscana da Imaculada Conceição, que me acolheu como frade há 29 anos (fiz minha primeira profissão no dia 10 de janeiro de 1986), depois a esta Diocese de Blumenau e esta Paróquia, com suas 16 Comunidades. Não posso deixar de agradecer às minhas irmãs religiosas e aos religiosos, às autoridades, civis e militares, desta cidade, com quem sempre me relacionei com respeito e reverência. Não posso deixar de agradecer aos empresários, comerciários e meios de comunicação que sempre buscaram o bem comum e o melhor de nossa comunidade. Agradeço especialmente às Comunidades e todo o povo santo que se doou com paixão pelo Reino de Deus. Como foi bonito ver esse milagre da multiplicação nas Festas de São Pedro Apóstolo e dos Padroeiros das Comunidades. Muitas pessoas, Pastorais e Movimentos colaboraram de maneira eficiente com meu ministério e outros de maneira silenciosa, mas não menos importante, a todos e todas minha gratidão.
Recentemente, numa celebração na Santa Marta, o Papa Francisco disse: “A herança mais bonita que podemos deixar aos outros é a fé”. Procurei, dentro dos meus limites, trabalhar pela fé, anunciando a Palavra de Deus, partilhando os sacramentos, sobretudo o Sacramento da Eucaristia. A fé, esse bem espiritual do povo, foi sempre a minha principal preocupação. Claro, não atuei só no plano espiritual. Zelei, com ajuda da comunidade, pelo patrimônio físico da comunidade paroquial. O que conseguimos fazer nesses doze anos não é mérito meu, mas tive a ajuda de entusiasmados colaboradores eficientes em trabalhos voluntários. Não posso deixar de externar a minha gratidão aos dizimistas e benfeitores. Obrigado pela generosidade e pelo compromisso de fidelidade que mantiveram durante estes anos!
Vivemos grandes celebrações e grandes momentos como paroquianos. Fizemos uma história bonita. Cresci muito aqui como cristão, franciscano, padre e ser humano. Peço perdão pelas minhas falhas, pelos meus pecados, principalmente se se magoei alguém devido às minhas limitações humanas… Não poderia deixar de agradecer ainda pelo apoio e conforto que me deram quando perdi meu pai e ainda recentemente minha mãe deixou nossos familiares e foi morar no céu. Mas nós, como sacerdotes, também ganhamos novas famílias. E aqui, posso afirmar, foi muito difícil para mim participar das dores de tantos irmãos que se despediram para sempre de seus entes queridos… Pessoas muito próximas e que deixaram um vazio na comunidade…
Sempre os terei no meu coração. Levarei daqui grandes lembranças. Podem sempre contar comigo e, desde já, se sintam convidados a me visitar na minha nova residência, a Paróquia Santo Antônio do Pari.
Termino com uma frase de um escritor muito famoso: Hermann Hesse (autor de ‘Sidharta’ e ‘O Lobo da Estepe’)
A cada chamado da vida, o coração
deve estar pronto para a despedida e para
novo começo, com ânimo e sem lamúrias,
aberto sempre para novos compromissos.
Dentro de cada começar mora um encanto
que nos dá forças e nos ajuda a viver.
Fiquem com a bênção de Deus!
Frei Germano Guesser
Gaspar, fevereiro de 2016
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