Frei Germano fala sobre o momento da Igreja
O pároco Frei Germano Guesser, atual Definidor da Província da Imaculada Conceição, fala nesta entrevista sobre o momento vivido pela Igreja de Cristo com a renúncia do representante de São Pedro. Para ele, “além de desmistificar um pouco a figura do papa – que não é um ser sobrenatural, mas um homem totalmente em função de Deus –, esse gesto nos convida a uma reflexão sobre a relação do poder com nossa fé, a importância da renúncia e desprendimento para o cristão, e a própria finitude do ser humano, da qual ninguém, nenhum de nós pode mesmo escapar”. Confira na íntegra a entrevista
Site – Como você recebeu a notícia da renúncia de Bento XVI?
Frei Germano – Uma notícia assim não era esperada, acho, por ninguém. Mesmo não sendo algo inédito, a renúncia de um papa é algo extremamente raro de acontecer. Acredito que foi uma surpresa geral. Logo ao receber a notícia, creio que todos ficamos meio confusos. Não que se trate de algo estranho ou ruim, mas pela novidade do ocorrido. Bento XVI não parecia um papa que renunciaria. Sempre demonstrou vigor e firmeza, e esse gesto de coragem – não acho que deva ser entendido de outra maneira – corroa seu pontificado com uma humildade e um desprendimento realmente cristãos. Acompanhando um pouco o que saiu na mídia sobre o assunto, percebemos que se trata de um gesto realmente admirável.
Site – Como a renúncia do papa deve ser vista pelos fiéis católicos?
Frei Germano – Certamente se trata de um gesto profético, de imensa coragem e humildade, só possível para alguém muito consciente e maduro. Além de desmistificar um pouco a figura do papa – que não é um ser sobrenatural, mas um homem totalmente em função de Deus – nos convida a uma reflexão sobre a relação do poder com nossa fé, a importância da renúncia e desprendimento para o cristão, e a própria finitude do ser humano, da qual ninguém, nenhum de nós pode mesmo escapar. Alguém tão em destaque reconhecer que o serviço, o ministério é o mais importante e está acima da sua pessoa, é indicativo de grande serenidade e maturidade de fé. Todos os católicos devem ver neste gesto um exemplo de seguimento de Cristo. Nada de fraqueza, mas reconhecimento de que nossa força verdadeira é o próprio Deus.
Site – Qual foi o legado deixado por Bento XVI? Como você avalia o trabalho dele?
Frei Germano – Bento XVI é um teólogo brilhante. Pessoa marcada pela simplicidade e humildade. Sua renúncia foi um gesto de coragem e desapego, algo não pensando só em si, no seu bem, mas para o bem da Igreja. Para reativar o coração da Igreja. Marcante também foi sua postura no diálogo inter-religioso… Deixa um legado admirável. Deixa três encíclicas, uma cultura vasta… Foi inflexível na defesa de valores tradicionais da Igreja, mostrou-se tolerante em relação a outras denominações e aceitou as críticas que recebeu.
Site – Qual a expectativa para o próximo escolhido?
Frei Germano – Mais do que especular sobre sua origem geográfica, cor de sua pele ou sua formação cultural, resta-nos esperar que seja um homem lúcido, sábio, tolerante e corajoso. A Igreja conta com muitas dificuldades e problemas, como toda instituição, mas encara um período extremamente rico em oportunidades na construção do Reino de Deus. O papa, mais que uma figura política, é um líder espiritual, desempenha até um papel afetivo para milhões de pessoas. Acreditamos que, sob a ação do Espírito Santo, será eleito aquele que melhor conduzirá a Igreja nesse período em que vivemos. Com muita coragem, fé e confiança em Deus. Bento XVI nos ensinou que, antes de tudo, o papa deve ser humano, e se reconhecer como tal, pois é através do humano, limitado, e frágil, que Deus escolhe se manifestar como nossa verdadeira força.