Frei Germano fala sobre a Páscoa
Na solenidade da Páscoa, que se estende por 50 dias, a Igreja celebra a Páscoa de Cristo e dos cristãos. A compreensão disso é de máxima importância para a vida em Cristo, para toda a dimensão pascal da vida dos cristãos. Nesta entrevista, o pároco Frei Germano Guesser fala sobre esse grande momento litúrgico, como diz: “Além de toda essa carga libertadora que a Páscoa preconiza, toda a fé cristã está baseada na Ressurreição de Jesus”.
O que significa a Páscoa? O que é celebrado na data?
Frei Germano – Páscoa significa passagem. Ainda é celebrada pelo povo judeu como recordação da libertação de Israel da escravidão do Egito (cf. Livro do Êxodo na Bíblia). Jesus Cristo estava em Jerusalém para celebrar a Páscoa judaica com seus discípulos quando foi preso, crucificado e morto. Mas é a partir do grande evento da Ressurreição que tudo passa a ser compreendido pelos cristãos. No domingo de manhã, Jesus não está no túmulo, ressuscitou! Essa passagem da morte para a vida atualiza em escala indescritível a libertação que o povo comemorava desde o Egito. Mais do que isso, diante da libertação da própria morte, a fuga do Egito se transforma em prenúncio da libertação maior, agora com Cristo que ressuscita e nos ressuscitará com Ele. Assim, a celebração da Páscoa deve ser um marco de libertação de todo o mal. Jesus não foi apenas um homem que ressuscitou e ficou famoso. Toda a sua vida convergia para a aceitação voluntária do sofrimento pela humanidade. Foi a escolha de Deus pela humanidade que dá sentido ao sofrimento de Jesus. Sofrendo, Ele nos liberta do desespero do sofrimento, pois não estamos mais sozinhos nem a mercê do mal. Disso Jesus nos libertou. Ele não aboliu o sofrimento, mas o transformou. Ele não impede que os homens morram, mas pela sua Ressurreição sabemos que não continuaremos mortos, mas ressuscitaremos com Ele não para outra vida, mas para uma vida nova.
Por que a Páscoa é tão importante para os fiéis?
Frei Germano – Além de toda essa carga libertadora que a Páscoa preconiza, toda a fé cristã está baseada na Ressurreição de Jesus. “Se Cristo não ressuscitou, vã é nossa fé”, já dizia o apóstolo Paulo. A Ressurreição é tão importante porque é o marco sobre o qual é construída toda a esperança cristã. Agora a celebração da Páscoa é mais complexa. Ela envolve todo o Tríduo Pascal. Quinta-feira Santa, Sexta-feira da Paixão e Sábado Santo (popular Sábado de Aleluia), cada um encerra um profundo significado e desempenha um papel ímpar na celebração pascal. A Quinta-feira, também chamada Missa do Lava-Pés, é na verdade a recordação da última ceia, onde Jesus institui a Eucaristia! Ao mesmo tempo dá como mandato o modo de ser de sua Igreja: o serviço. A Sexta-feira é dedicada à Paixão, à meditação do sofrimento e entrega voluntária de Jesus. Recorda que nossos sofrimentos diários não passam despercebidos por Deus. E o Sábado é a noite da alegria, onde numa hora desconhecida antes do amanhecer de domingo, o Cristo ressuscita! É uma das celebrações mais bonitas e importantes da fé católica, a Vigília Pascal. Tudo isso, cada passo, cada momento e significado, constroem a importância da celebração da Páscoa.
A quaresma é tempo “para quê”?
Frei Germano – Quaresma é um tempo de preparação. Mas não é um tempo vazio de significado, muito pelo contrário, é quase antecipação. Isso porque não esperamos uma possibilidade, algo que pode ou não acontecer. A espera na fé já participa da alegria final. Assim, toda a preparação quaresmal não é só em vista da Páscoa… Mas já é celebração pascal – em certo sentido. A palavra que melhor define o objetivo da quaresma é conversão. Esse é o tempo de olharmos para nossa vida e percebermos o que nós valorizamos de verdade, aquilo do que não tiramos nossos olhos, não abrimos mão. Ao percebermos isso claramente, conseguimos avaliar se de fato, isso merece tanta atenção e tanto espaço em nossa vida, pois a centralidade de nossa vida só pode pertencer a Deus. Todo o ano é tempo, mas a quaresma é um tempo especial para convertemos, redirecionarmos esse nosso olhar privilegiado para Deus. Só redescobrindo o espaço que pertence a Deus em nossa vida é que podemos celebrar de verdade a sua Páscoa e participarmos de sua Ressurreição.
Fonte: Entrevista ao Jornal Metas