Paróquia São Pedro Apóstolo - Gaspar, SC

Notícias › 06/11/2015

Santa Isabel, padroeira da Ordem Terceira Secular

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QUEM É SANTA ISABEL DA HUNGRIA

Diz a lenda que Isabel foi invocada mesmo antes de nascer. Um vidente anunciou seu glorioso nascimento como estrela que nasceria na Hungria, passaria a brilhar na Alemanha e se irradiaria para o mundo. Citou-lhe o nome, como filha do rei da Hungria e futura esposa do soberano de Eisenach (Alemanha).

De fato, como previsto, a filha do rei André, da Hungria, e da rainha Gertrudes, nasceu em 1207. O batismo da criança foi uma festa digna de reis. E a criança recebeu o nome de Isabel, que significa repleta de Deus.

Ela encantou o reino e trouxe paz e prosperidade para o governo de seu pai. Desde pequenina se mostrou de fato repleta de Deus pela graça, pela beleza, pelo precoce espírito de oração e pela profunda compaixão para com os sofredores.

Tinha apenas quatro aninhos quando foi levada para a longínqua Alemanha como prometida esposa do príncipe Luís, nascido em 1200, filho de Hermano, soberano da Turíngia. Hermano se orientava pela profecia e desejava assegurar um matrimônio feliz para seu filho.

Dada a sua vida simples, piedosa e desligada das pompas da corte, concluíram que a menina não seria companheira para Luis. E a perseguiam e maltratavam, dentro e fora do palácio.

Luis, porém, era um cristão da fibra do pai. Logo percebeu o grande valor de Isabel. Não se impressionava com a pressão dos príncipes e tratou de casar-se quanto antes. O que aconteceu em 1221.

A Santa não recuava diante de nenhuma obra de caridade, por mais penosas que fossem as situações, e isso em grau heróico! Certa vez, Luis a surpreendeu com o avental repleto de alimentos para os pobres. Ela tentou esconder… Mas ele, delicadamente, insistiu e… milagre! Viu somente rosas brancas e vermelhas, em pleno inverno. Feliz, guardou uma delas.

Sua vida de soberana não era fácil e freqüentemente tinha que acompanhar o marido em longas e duras cavalgadas. Além disso, os filhos, Hermano, de 1222; Sofia, de 1224 e Gertrudes, de 1227.

Estava grávida de Gertrudes, quando descobriu que o duque Luis se comprometera com o Imperador Frederico II a seguir para a guerra das Cruzadas para libertar Jerusalém. Nova renúncia duríssima! E mais: antes mesmo de sair da Itália, o duque morre de febre, em 1227! Ela recebe a notícia ao dar à luz a menina.

Quando Luis ainda vivia, ele e Isabel receberam em Eisenach alguns dos primeiros franciscanos a chegar na Alemanha por ordem do próprio São Francisco. Foi-lhes dado um conventinho. Assim, a Santa passou a conhecer o Poverello de Assis e este a ter freqüentes notícias dela. Tornou-se mesmo membro da Familia Franciscana, ingressando na Ordem Terceira que Francisco fundara para leigos solteiros e casados. Era, pois, mais que amiga dos frades. Chegou a receber de presente o manto do próprio São Francisco!

Morto o marido, os cunhados tramaram cruéis calúnias contra ela e a expulsaram do castelo de Wartburgo. E de tal forma apavoraram os habitantes da região, que ninguém teve coragem de acolher a pobre, com os pequeninos, em pleno inverno. Duas servas fiéis a acompanharam, Isentrudes e Guda.

De volta ao Palácio quando chegaram os restos mortais de Luís, Isabel passou a morar no castelo, mas vestida simplesmente e de preto, totalmente afastada das festas da corte. Com toda naturalidade, voltou a dedicar-se aos pobres. Todavia, Lá dentro dela o Senhor a chamava para doar-se ainda mais. Mandou construir um conventinho para os franciscanos em Marburgo e lá foi morar com suas servas fiéis. Compreendeu que tinha de resguardar os direitos dos filhos. Com grande dor, confiou os dois mais velhos para a vida da corte. Hermano era o herdeiro legitimo de Luis. A mais novinha foi entregue a um Mosteiro de Contemplativas, e acabou sendo Santa Gertrudes! Assim, livre de tudo e de todos, Isabel e suas companheiras professaram publicamente na Ordem Franciscana Secular e, revestidas de grosseira veste, passaram a viver em comunidade religiosa. O rei André mandou chamá-las, mas ela respondeu que estava de fato feliz. Por ordem do confessor, conservou alguma renda, toda revertida para os pobres e sofredores.

Construiu abrigo para as crianças órfãs, sobretudo defeituosas, como também hospícios para os mais pobres e abandonados. Naquele meio, ela se sentia de fato rainha, mãe, irmã. Isso no mais puro amor a Cristo. No atendimento aos pobres, procurava ser criteriosa. Houve época, ainda no palácio, em que preferia distribuir alimentos para 900 pobres diariamente, em vez de dar-lhes maior quantia mensalmente. É que eles não sabiam administrar. Recomendava sempre que trabalhassem e procurava criar condições para isso. Esforçava-se para que despertassem para a dignidade pessoal, como convém a cristãos. E são inúmeros os seus milagres em favor dos pobres!

De há muito que Isabel, repleta de Deus, era mais do céu do que da terra. A oração a arrebatava cada vez mais. Suas servas atestam que, nos últimos meses de vida, frequentemente uma luz celestial a envolvia. Assim chegou serena e plena de esperança à hora decisiva da passagem para o Pai. Recebeu com grande piedade os sacramentos dos enfermos. Quando seu confessor lhe perguntou se tinha algo a dispor sobre herança, respondeu tranqüila: “Minha herança é Jesus Cristo !” E assim nasceu para o céu! Era 17 de novembro de 1231.

Sete anos depois, o Papa Gregório IX, de acordo com o Conselho dos Cardeais, canonizou solenemente Isabel. Foi em Perusa, no mesmo lugar da canonização de São Francisco, a 26 de maio de 1235, Pentecostes. Mais tarde foi declarada Padroeira da Ordem Franciscana Secular.

FREI CARMELO SURIAN, O.F.M.

 

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MENSAGEM DO MINISTRO GERAL PARA O JUBILEU DE 2007

As duas paixões de Isabel de Hungria

Queridos irmãos: O Senhor lhes dê a paz!

Que mensagem nos dirige, Irmãos Menores, a figura de Santa Isabel? Que pode dizer aos franciscanos de hoje, uma mulher envolta na penumbra de um passado remoto e em um mundo cheio de legendas? Que pode nos dizer esta mulher passados tantos anos e tantas coisas?

Sua mensagem, e que a converte em uma figura realmente atual, ganha força em suas duas grandes paixões: a paixão por Cristo e a paixão pelos pobres. Uma dupla paixão que a coloca em perfeita sintonia espiritual e carismática com Francisco, a quem sem dúvida se inspirou, e com Clara, ambos corações conquistados por Cristo e conquistados pelos pobres, nos quais descubriram a Cristo. Toda sua vida, inclusive sua vida de extrema penitência, só pode ser entendida à luz destas duas paixões.

No caso de Isabel, sua paixão por Cristo levou-a assumir o Evangelho como sua forma de vida, e a vivê-lo no mais genuíno estilo de Francisco: simplesmente, sem rodeios, em todos seus aspectos espiritual e material. Propósito este que se manifesta em suas atitudes existenciais mais profundas, tais como: o reconhecimento do senhorio absoluto de Deus; a exigência de despojar-se de tudo e fazer-se pequena como uma criança para entrar no reino do Pai; o cumprimento, até suas últimas consequências, do mandamento novo do amor.

Ela não deixou nada escrito, mas numerosas passagens de sua vida só podem ser entendidas a partir de uma compreensão literal do Evangelho. Tornou realidade o programa de vida proposto por Jesus no Evangelho:

>> Quem procura ganhar a sua vida , vai perdê -la; e quem a perde , vai conservá -la; Pois , quem quiser salvar a sua vida , vai perdê -la; mas , quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia , vai salvá -la (Lc 17, 33; Mc 8, 35).
>> Então Jesus chamou a multidão e os discípulos . E disse : «Se alguém quer me seguir , renuncie a si mesmo , tome a sua cruz e me siga . Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la (Mc 8, 34-35).

>> Jesus respondeu : «Se você quer ser perfeito , vá , venda tudo o que tem , dê o dinheiro aos pobres , e você terá um tesouro no céu . Depois venha , e siga -me (Mt 19,21).

>> Quem ama seu pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. (Mt 10,37).

Sua paixão por Cristo se manifestava e se alimentava graças à uma comunhão profunda com Ele através de uma vida de oração intensa, contínua, às vezes, até o arrebatamento. A consciência constante da presença do Senhor era a fonte de sua fortaleza, de sua alegria, e de seu compromisso com os pobres. Mas também o encontro com o Cristo nos pobres estimulava sua fé e sua prece, pois seu encontro com eles a fazia “identificar-se” com eles. Nada estranho, pois na sua peregrinação para Deus, estava marcada por passos decididos de desprendimento até chegar ao depojamento total como Cristo na cruz. Ao final não lhe restou nada mais que uma túnica cinza e pobre de penitência, que quis conservar como símbolo e mortalha.

Sua paixão por Cristo, que sendo rico se fez pobre, levou Isabel a segui-lo radicalmente e a descobri-lo e servi-lo em seus “representantes, os pobres e crucificados da terra”, como disse o documento final de nosso Capítulo Extraordinário (Shc 9). Isabel servia pessoalmente aos abatidos, aos pobres e enfermos. Cuidou dos leprosos, a escória da sociedade, como Francisco. Dia a dia, hora a hora, pobre a pobre, viveu e consumiu a misericordia de Deus no rio de dor e de miséria que a envolvia. Nos desventurados, Isabel via a pessoa de Cristo (Mt 25,40). Isto lhe deu forças para vencer sua repugnancia natural, tanto que chegou até a beijar as feridas purulentas dos leprosos.

Forjada na forma evangélica de Francisco de Assis, como Poverello, e Clara, sua “Plantinha”, Isabel abandonou os romances e ambições do mundo, a pompa de sua corte, as comodidades, as riquezas, os trajes de luxo… Deixou seu castelo e armou sua tenda entre os desprezados e feridos para servi-los.

A santidade consiste em amar como Jesus amou. Amar a Deus e amar o próximo, dois mandamentos que não se podem separar. Paixão por Cristo, paixão pelos pobres, duas paixões que necessariamente vão sempre juntas. Tudo isso não será uma loucura? Sim, esta a loucura de amor que não conhece limites, é a loucura da santidade. E a de Isabel é uma autêntica loucura. Em sua vida brilha com singular esplendor a supremacia da caridade. Sua pessoa é um canto de amor, modelado no serviço e abnegação, para semear o bem. É esse amor que fez brotar nela uma ardente força interior, própria de uma “mulher varonil”, como é Isabel, e levava-a irradiar alegria e serenidade, mesmo na tribulação, solidão e dor. E fiel ao que escreveu: “Temos de fazer os homens felizes”, conforme dizia às suas irmãs, Isabel alegrava o coração de quem a ela se acercava. O fundo de sua alma estava habitado pelo reino da paz.

Isabel passou por esta vida como um meteoro luminoso de esperança. Lançou luzes na escuridão de muitas almas. Levou a alegria aos corações dos aflitos. Nada poderá contar as lágrimas que secou, as feridas que cicatrizou, o amor que despertou.

Neste momento em que nossa Ordem está empenhada na renovação profunda para seguir “mais de perto” e “mais radicalmente” a Cristo, e quando o Capítulo Geral Extraordinário nos convidou repetidas vezes a “ser menores com os menores da terra”, Isabel se nos apresenta não só como uma mulher profundamente evangélica, senão também como um modelo a seguir em sua paixão por Cristo e pelos pobres.

Invoquemos a personalidade tão singular de Isabel, para que, através do conhecimento e da admiração por esta figura, todos quantos que seguimos a Cristo, seguindo os passos de Francisco, de Clara e de Isabel, nos convertamos em instrumentos de paz e alegria, e aprendamos a derramar um pouco de bálsamo nas feridas de nosso entorno, a humanizar o que nos rodeia, a secar algunas lágrimas. Coloquemos nosso coração onde não há misericordia do Pai. O compromisso que viveu Isabel estimule nosso compromisso. Seu exemplo e intercessão iluminam nosso caminho até o Pai, fonte de todo o amor: o Bem, todo o bem, sumo bem; o silêncio e o júbilo.

Mensagem do Ministro Geral da Orden dos Frades Menores, Fr. José Rodríguez Carballo, OFM, no dia 17 de novembro de 2006, quando foi aberto do ano jubilar do 8º Centenário de Nascimento de Santa Isabel, que se encerrou no dia 17 de novembro de 2007.

 

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Exortação de São Francisco aos Irmãos e Irmãs da penitência

Em nome do Senhor!

Dos que fazem penitência

Todos os que amam o Senhor, de todo o coração, de toda a alma e de toda a mente, com todas as suas forças (Mc 12,30) e amam a seu próximo como a si mesmos (Mt 22,29), e odeiam o próprio corpo com seus vícios e pecados, e que recebem o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e fazem dignos frutos de penitência; quão felizes são estes e estas que assim agirem e perseverarem até o fim, porque sobre eles repousará o Espírito do Senhor (Is 11,2) e Ele fará neles sua habitação e sua morada (Jo 14,23), e eles são filhos do Pai Celestial (Mt 5,45), cujas obras fazem, e são esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 12,50).

Somos esposos, quando a alma fiel está unida a Nosso Senhor Jesus Cristo pelo Espírito Santo. Somos seus irmãos, quando fazemos a vontade do Pai, que está nos céus (Mt 12,50). Somos mães, quando o trazemos em nosso coração e em nosso corpo (lCor 6,20) pelo amor divino e por uma consciência pura e sincera; e o damos à luz pelas obras santas que, pelo exemplo, devem ser luz para os outros (Mt 5,16).

Como é honroso ter no céu um Pai santo e grandioso! Como é santo ter um tal esposo, consolador, belo e admirável! Como é santo e como é amável ter um tal irmão e um tal filho agradável, humilde, pacífico, doce, amorável e sobre todas as coisas desejável: Nosso Senhor Jesus Cristo, que entregou sua vida por suas ovelhas (Jo 10,15) e por nós orou ao Pai, dizendo: Pai santo, guarda-os em teu nome (Jo 17,11), os que me deste no mundo; eram teus, mas tu mos deste (Jo 17,6). E as palavras que me deste, eu as dei a eles e eles as receberam e creram em verdade que saí de ti e conheceram que tu me enviaste (Jo 17,8).

Rogo por eles, não pelo mundo (Jo 17,9). Abençoa-os e santifica-os (Jo 17,17) e por eles eu próprio me santifico (Jo 17,19). Não rogo somente por eles, mas também por quantos hão de crer em mim mediante a palavra deles (Jo 17,20), para que sejam santificados na unidade (Jo 17,23), como nós (Jô 17,11).

Pai, quero que, onde eu estou, eles estejam comigo para que vejam a minha glória (Jo 17,24) no seu remo (Mt 20,21). Amém.

Dos que não fazem penitência

Todos aqueles e aquelas que não vivem em espírito de penitência e não recebem o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e praticam vícios e pecados, e caminham atrás da má concupiscência e dos maus desejos da sua carne e não cumprem o que prometerem ao Senhor e com seu corpo servem ao mundo, aos desejos carnais, às solicitudes deste mundo e às preocupações desta vida; dominados pelo demônio, do qual são filhos e cujas obras praticam (Jo 8,41), estão cegos, porque não reconhecem a verdadeira luz, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Não possuem a sabedoria espiritual, porque não têm o Filho de Deus, que é a verdadeira sabedoria do Pai; dos quais está escrito: A sabedoria deles foi devorada (Sl 106,27) e: Malditos os que se afastam dos teus mandamentos (51 118,21).

Percebem e o reconhecem, têm consciência e praticam o mal e perdem deliberadamente suas almas. Reparai, ó cegos, iludidos por vossos inimigos; pela carne, pelo mundo e pelo demônio; porque é agradável ao corpo praticar o pecado, e amargo fazê-lo servir a Deus, porque todos os vícios e pecados saem do coração do homem e de lá procedem, como diz o Senhor no Evangelho (Mc 7,21). E nada tendes de bom neste mundo, nem no futuro.

E julgais possuir por longo tempo as coisas deste mundo, mas estais enganados, porque virá o dia e a hora na qual não pensais, que desconheceis e ignorais. O corpo adoece, a morte se avizinha e assim o homem morre de uma morte infeliz. E onde, quando e tal modo como venha a morrer um homem em pecado mortal, sem penitência e reparação – e ele pôde fazer penitência mas não o fez – o demônio lhe arranca a alma do corpo sob tal angústia e medo, que ninguém é capaz de conhecer, senão aquele próprio que o experimenta. E ser-lhe-ão tirados (Lc 8,18; Mc 4,25) todos os talentos e os poderes e a ciência e a sabedoria (2Cr 1,12) que julgavam possuir. E deixam os seus bens aos parentes e aos amigos e depois que estes se apoderaram deles e os distribuíram entre si, disseram: Maldita seja a sua alma, porque pôde ter dado e ganho mais para nós do que aquilo que conseguiu.

O corpo, comem-no os vermes e assim eles perderam o corpo e a alma neste mundo passageiro, e irão para o inferno, onde serão atormentados para sempre.

Ao conhecimento de todos a quantos chegar esta carta, rogamos, por aquele amor que é Deus (lJo 4,16), que recebam benignamente estas palavras odoríficas de Nosso Senhor Jesus Cristo. E os que não sabem ler, façam-nas ler muitas vezes; e guardem-nas na memória, pondo-as santamente em prática até o fim, pois elas são espírito e vida (Jo 6,64).

E os que não o fizerem, terão de prestar contas no dia do juízo (Mt 12,36), perante o tribunal de Nosso Senhor Jesus Cristo (Riu 14,10).

(Esser, K: Opuscula S. Patris Francisci, Edítiones CoIlegii S. Bonaventurae, Ad Claras Aquas, Grotraferrata, 1978 p. 108-112)

 

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Um modelo de zelo para salvar o mundo

“Eles nos oferecem, Irmãos Menores, um modelo de zelo, em sentido evangélico, para salvar o mundo. Mostram-nos que precisamos realmente manter-nos fiéis à nossa vocação franciscana. Quanto mais nos comprometermos com os franciscanos seculares, tanto mais nos inseriremos nos interesses que Francisco teve para com o povo em sua situação vital. Estamos lado a lado e reciprocamente nos necessitamos. Mesmo quando os irmãos têm certo sentido da tradição franciscana e também têm o tempo e a possibilidade de chegar a determinadas áreas, também aí necessitamos dos franciscanos seculares para apoiar-nos e completar-nos.

“Porém também eles precisam de nós, porque querem compartilhar o carisma e a tradição franciscanas que estamos obrigados a comunicar-lhes. Isto não significa que eles não nos possam comunicar, mas que nós tenhamos algo de especial para oferecer-lhes. Eles necessitam deste apoio de nossa parte, necessitam da orientação que provém da condição de serem membros de uma Ordem espalhada pelo mundo inteiro. Os franciscanos seculares necessitam também que lhes demos uma visão mais ampla da vocação franciscana, assim como nós também necessitamos deles para conseguirmos uma visão mais ampla dos acontecimentos específicos de sua vida”.

John Vaughn, O.F.M, ex-Ministro Geral

 

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Isabel da Hungria, a princesa entre os pobre

Queridos irmãos e irmãs:

Santa Isabel da Hungria, chamada também de Isabel de Turíngia, nasceu em 1207, na Hungria. Os historiadores discutem onde. Seu pai era André II, rico e poderoso rei da Hungria, o qual, para reforçar seus vínculos políticos, havia se casado com a condessa alemã Gertrudes de Andechs-Merania, irmã de Santa Edwirges, que era esposa do duque de Silésia. Isabel viveu na corte húngara somente nos primeiros quatro anos da sua infância, junto a uma irmã e três irmãos. Ela gostava de música, dança e jogos; recitava com fidelidade suas orações e mostrava atenção particular aos pobres, a quem ajudava com uma boa palavra ou com um gesto afetuoso.

Sua infância feliz foi bruscamente interrompida quando, da distante Turíngia, chegaram alguns cavaleiros para levá-la à sua nova sede na Alemanha central. Segundo os costumes daquele tempo, de fato, seu pai havia estabelecido que Isabel se convertesse em princesa de Turíngia. O landgrave ou conde daquela região era um dos soberanos mais ricos e influentes da Europa no começo do século XIII e seu castelo era centro de magnificência e de cultura. Mas, por trás das festas e da glória, escondiam-se as ambições dos príncipes feudais, geralmente em guerra entre eles e em conflito com as autoridades reais e imperiais. Neste contexto, o conde Hermann acolheu com boa vontade o noivado entre seu filho Ludovico e a princesa húngara. Isabel partiu de sua pátria com um rico dote e um grande séquito, incluindo suas donzelas pessoais, duas das quais permaneceriam amigas fiéis até o final. São elas que deixaram preciosas informações sobre a infância e sobre a vida da santa.

Após uma longa viagem, chegaram a Eisenach, para subir depois à fortaleza de Wartburg, o maciço castelo sobre a cidade. Lá se celebrou o compromisso entre Ludovico e Isabel. Nos anos seguintes, enquanto Ludovico aprendia o ofício de cavaleiro, Isabel e suas companheiras estudavam alemão, francês, latim, música, literatura e bordado. Apesar do fato do compromisso ter sido decidido por razões políticas, entre os dois jovens nasceu um amor sincero, motivado pela fé e pelo desejo de fazer a vontade de Deus. Aos 18 anos, Ludovico, após a morte do seu pai, começou a reinar sobre Turíngia. Mas Isabel se converteu em objeto de silenciosas críticas, porque seu comportamento não correspondia à vida da corte. Assim também a celebração do matrimônio não foi fastuosa e os gastos do banquete foram distribuídos em parte aos pobres. Em sua profunda sensibilidade, Isabel via as contradições entre a fé professada e a prática cristã. Não suportava os compromissos. Uma vez, entrando na igreja na festa da Assunção, ela tirou a coroa, colocou-a aos pés da cruz e permaneceu prostrada no chão, com o rosto coberto. Quando uma freira a desaprovou por este gesto, ela respondeu: “Como posso eu, criatura miserável, continuar usando uma coroa de dignidade terrena quando vejo o meu Rei Jesus Cristo coroado de espinhos?”. Ela se comportava diante dos seus súditos da mesma forma que se comportava diante de Deus. Entre os escritos das quatro donzelas, encontramos este testemunho: “Não consumia alimentos sem antes estar certa de que procediam das propriedades e dos bens legítimos do seu marido. Enquanto se abstinha dos bens adquiridos ilicitamente, preocupava-se também por ressarcir àqueles que tivessem sofrido violência” (nn. 25 e 37). Um verdadeiro exemplo para todos aqueles que desempenham cargos: o exercício da autoridade, em todos os níveis, deve ser vivido como serviço à justiça e à caridade, na busca constante do bem comum.

Isabel praticava assiduamente as obras de misericórdia: dava de beber e de comer a quem batia à sua porta, distribuía roupas, pagava as dívidas, cuidava dos doentes e sepultava os mortos. Descendo do seu castelo, dirigia-se frequentemente com suas donzelas às casas dos pobres, levando pão, carne, farinha e outros alimentos. Entregava os alimentos pessoalmente e cuidava com atenção do vestuário e dos leitos dos pobres. Este comportamento foi informado ao seu marido, a quem isso não apenas não desagradou, senão que respondeu aos seus acusadores: “Enquanto ela não vender o castelo, estou feliz!”. Neste contexto se coloca o milagre do pão transformado em rosas: enquanto Isabel ia pela rua com seu avental cheio de pão para os pobres, encontrou-se com o marido, que lhe perguntou o que estava carregando. Ela abriu o avental e, no lugar dos pães, apareceram magníficas rosas. Este símbolo de caridade está presente muitas vezes nas representações de Santa Isabel.

Seu casamento foi profundamente feliz: Isabel ajudava seu esposo a elevar suas qualidades humanas ao nível espiritual e ele, por outro lado, protegia sua esposa em sua generosidade com os pobres e em suas práticas religiosas. Cada vez mais admirado pela grande fé de sua esposa, Ludovico, referindo-se à sua atenção aos pobres, disse-lhe: “Querida Isabel, é Cristo quem você lavou, alimentou e cuidou” – um claro testemunho de como a fé e o amor a Deus e ao próximo reforçam e tornam ainda mais profunda a união matrimonial.

O jovem casal encontrou apoio espiritual nos Frades Menores, que, desde 1222, difundiram-se em Turíngia. Entre eles, Isabel escolheu o Frei Rüdiger como diretor espiritual. Quando ele lhe narrou as circunstâncias da conversão do jovem e rico comerciante Francisco de Assis, Isabel se entusiasmou ainda mais em seu caminho de vida cristã. Desde aquele momento, dedicou-se ainda mais a seguir Cristo pobre e crucificado, presente nos pobres. Inclusive quando nasceu seu primeiro filho, seguido de outros dois, nossa santa não descuidou jamais das suas obras de caridade. Além disso, ajudou os Frades Menores a construir um convento em Halberstadt, do qual o Frei Rüdiger se tornou superior. A direção espiritual de Isabel passou, assim, a Conrado de Marburgo.

Uma dura prova foi o adeus ao marido, no final de junho de 1227, quando Ludovico IV se associou à cruzada do imperador Frederico II, recordando à sua esposa que esta era uma tradição para os soberanos de Turíngia. Isabel respondeu: “Não o impedirei. Eu me entreguei totalmente a Deus e agora devo entregar você também”. No entanto, a febre dizimou as tropas e o próprio Ludovico ficou doente e morreu em Otranto, antes de embarcar, em setembro de 1227, aos 26 anos. Isabel, ao saber da notícia, sentiu tal dor, que se retirou em solidão, mas depois, fortificada pela oração e consolada pela esperança de voltar a vê-lo no céu, interessou-se novamente pelos assuntos do reino. Outra prova, porém, a esperava: seu cunhado usurpou o governo de Turinga, declarando-se verdadeiro herdeiro de Ludovico e acusando Isabel de ser uma mulher piedosa incompetente para governar. A jovem viúva, com seus três filhos, foi expulsa do castelo de Wartburg e começou a procurar um lugar para refugiar-se. Somente duas de suas donzelas permaneceram junto dela, acompanharam-na e confiaram os três filhos aos cuidados de amigos de Ludovico. Peregrinando pelos povoados, Isabel trabalhava onde era acolhida, assistia os doentes, fiava e costurava. Durante este calvário, suportado com grande fé, paciência e dedicação a Deus, alguns parentes, que haviam permanecido fiéis a ela e consideravam ilegítimo o governo do seu cunhado, reabilitaram seu nome. Assim, Isabel, no início de 1228, pôde receber uma renda apropriada para retirar-se ao castelo familiar em Marburgo, onde vivia também seu diretor espiritual, Frei Conrado. Foi ele quem contou ao Papa Gregório IX o seguinte fato: “Na Sexta-Feira Santa de 1228, com as mãos sobre o altar da capela da sua cidade, Eisenach, onde havia acolhido os Frades Menores, na presença de alguns frades e familiares, Isabel renunciou à sua própria vontade e a todas as vaidades do mundo. Ela queria renunciar a todas as suas possessões, mas eu a dissuadi por amor aos pobres. Pouco depois, construiu um hospital, recolheu doentes e inválidos e serviu em sua própria mesa os mais miseráveis e abandonados. Tendo eu a repreendido por estas coisas, Isabel respondeu que dos pobres recebia uma especial graça e humildade” (Epistula magistri Conradi, 14-17).

Podemos ver nesta afirmação certa experiência mística parecida com a vivida por São Francisco: de fato, o Pobrezinho de Assis declarou em seu testamento que, servindo os leprosos, o que antes era amargo se transformou em doçura da alma e do corpo (Testamentum, 1-3). Isabel transcorreu seus últimos 3 anos no hospital fundado por ela, servindo os doentes, velando com os moribundos. Tentava sempre levar a cabo os serviços mais humildes e os trabalhos repugnantes. Ela se converteu no que poderíamos chamar de mulher consagrada no meio do mundo (soror in saeculo) e formou, com outras amigas suas, vestidas com um hábito cinza, uma comunidade religiosa. Não é por acaso que ela é padroeira da Terceira Ordem Regular de São Francisco e da Ordem Franciscana Secular.

Em novembro de 1231, foi vítima de fortes febres. Quando a notícia da sua doença se propagou, muitas pessoas foram visitá-la. Após cerca de 10 dias, ela pediu que fechassem as portas, para ficar a sós com Deus. Na noite de 17 de novembro, descansou docemente no Senhor. Os testemunhos sobre sua santidade foram tantos, que apenas quatro anos mais tarde, o Papa Gregório IX a proclamou santa e, no mesmo ano, consagrou-se a bela igreja construída em sua honra, em Marburgo.

Queridos irmãos e irmãs, na figura de Santa Isabel, vemos como a fé e a amizade com Cristo criam o sentido da justiça, da igualdade de todos, dos direitos dos demais e criam o amor, a caridade. E dessa caridade nasce a esperança, a certeza de que somos amados por Cristo e de que o amor de Cristo nos espera e nos torna, assim, capazes de imitá-lo e vê-lo nos demais. Santa Isabel nos convida a redescobrir Cristo, a amá-lo, a ter fé e, assim, encontrar a verdadeira justiça e o amor, como também a alegria de que um dia estaremos submersos no amor divino, no gozo da eternidade com Deus. Obrigado.

Benedictus PP XVI