Bento XVI seis anos após renúncia: a atualidade de um magistério
Andrea Tornielli – Cidade do Vaticano
Passaram-se seis anos daquele trovão num céu sereno, a primeira renúncia de um Papa por motivos de saúde e da idade avançada. Em 11 de fevereiro de 2013 Bento XVI, quase ao completar o oitavo ano de seu pontificado, anunciava sua vontade de deixar o ministério petrino no final daquele mesmo mês, porque não se sentia mais em condições de carregar – fisicamente e espiritualmente – o peso do pontificado. O peso de um ministério que no último século mudou profundamente no que diz respeito à modalidade de seu exercício, com o acréscimo de celebrações, obrigações, compromissos, e viagens internacionais.
No que diz respeito ao magistério do Papa Ratzinger, muitas vezes “calcado” por leituras redutivas e clichês pré-fabricados incapazes de valorizar sua riqueza, a complexidade e a fidelidade ao ensinamento do Concílio Ecumênico Vaticano II, como recordar a insistência sobre o fato que a Igreja “não possui nada por si mesma diante d’Aquele que a fundou, de modo a poder dizer: o fizemos muito bem! Seu sentido consiste no ser instrumento da redenção, no deixar-se permear pela Palavra de Deus e no introduzir o mundo na união de amor com Deus”. Por conseguinte, o oposto do confiar nas estratégias e nos projetos. A Igreja, continuava Bento XVI num discurso na Konzerthaus de Freiburg im Breisgau em setembro de 2011, “quando é verdadeiramente ela mesma, está sempre em movimento, deve continuamente colocar-se a serviço da missão, que recebeu do Senhor. E por isso deve sempre novamente abrir-se às preocupações do mundo, do qual, na realidade, ela mesma faz parte, dedicar-se sem reservas a tais preocupações, para continuar e tornar presente o intercâmbio sacro que teve início com a encarnação”.
Naquele mesmo discurso, o Papa Ratzinger alertava para a tendência contrária. Isto é, “a de uma Igreja satisfeita de si mesma, que se acomoda neste mundo… Não raramente dá assim à organização e à institucionalização uma importância maior do que a seu chamado a ser aberta a Deus e a um abrir o mundo ao próximo”. Por isso, o Pontífice alemão mostrava naquele discurso o lado positivo da secularização, que contribuiu de modo essencial à purificação e reforma interior” da própria Igreja mesmo expropriando-a de seus bens e de seus privilégios. Porque, concluía, “livre dos fardos e dos privilégios materiais e políticos, a Igreja pode dedicar-se melhor e de modo verdadeiramente cristão ao mundo inteiro, pode ser verdadeiramente aberta ao mundo. Pode novamente viver com mais leveza seu chamado ao ministério da adoração a Deus e ao serviço do próximo”.