Paróquia São Pedro Apóstolo - Gaspar, SC

Notícias › 01/07/2016

A história da festa em um casal

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Moacir Beggo

Gaspar (SC) – A festa de São Pedro Apóstolo, que está na 166ª edição, é o retrato fiel de um casal que está em todas as partes do circuito festivo, igreja e o complexo de festas. Dilza, ou Dona Dica como é mais conhecida, e Evaristo Spengler – que são parentes de dois bispos, Frei Evaristo e Dom Jaime -, formam o casal mais antigo da festa.

Nesta quinta-feira, eles foram escolhidos pelo pároco Frei Paulijacson de Moura para acender a fogueira. Mas os dois não aparecem somente nas homenagens, não! Estão em toda parte. Dona Dica, aos 82 anos, trabalha incansavelmente. Coloca seu uniforme e mãos à obra na cozinha. Ela é do tempo que as voluntárias da cozinha iam até o rio Itajaí (logo abaixo do Salão Cristo Rei) matar e limpar as galinhas. Calma! Dona Dica trata logo de explicar que a água do rio naquele tempo era límpida, bem diferente do que acontece com os nossos rios no Brasil. “Elas acendiam o fogo ali mesmo para ferver a água num tacho e depenar as galinhas. Na época, a cidade não passava de uma vila, e 300 galinhas assadas eram suficientes. Havia também o churrasco”, recorda.

dica2Nesse tempo, Dona Dica era uma adolescente de 16 anos apenas. E foi com essa idade que ela ingressou nas Filhas de Maria e passou a trabalhar sempre na festa, seguindo o exemplo dos pais. “Na cozinha, contudo, estou há 30 anos”, observa, informando que até 1983 o fogão era de lenha. “Aqui não tinha essa estrutura que temos hoje. Havia um rancho coberto de chão batido e a escola paroquial”, acrescenta. Atualmente, o Salão Cristo Rei ocupa o maior espaço físico e o maior centro social da cidade.

Por sua vez, o marido, Evaristo, aparece na foto da primeira formação da Banda São Pedro, encontrada em 2 de outubro de 1949. Neste ano, em 2016,  a Banda celebra 70 anos de fundação. “Nós sempre fomos muito de Igreja”, conta Dona Dica, que fala com orgulho de suas quatro filhas (Maristela, Marisa, Marialva e Maria Clarice), que lhe deram 13 bisnetos e 11 netos. “Não é porque são minhas filhas não, mas são bonitas. Quando crianças, as pessoas paravam a gente na rua para admirar os olhos delas”, revela a mãe-coruja. Ela também  tem elogios para os netinhos e bisnetos: “Ouvir chamarem de ‘bisa’ é muito bonito. É uma graça”.

“Eu ajudo em tudo o que posso, mas em primeiro lugar está a família”, diz, mas depois se contradiz. “Minhas filhas ficam doidas comigo. Dizem ‘a mãe não para’, ‘por que a mãe não para?’, revela. Segundo ela, deixou de ir a um chá de bebê de um bisneto que vai nascer. “Naquele dia tinha feijoada da Rede Feminina e meu marido estava com uma gripe com muita febre. Eu não pude ir. Ficaram muito bravas comigo. Respondi: ‘Mas como eu poderia levar o pai?'”, tentou amenizar. Dona Dica conta que tem uma neta de 41 anos.

Mas parece que as filhas têm razão de se preocupar. Na quarta-feira última, Dona Dica estava na cozinha, logo mais à noite estava na Missa como Ministra da Eucaristia, faz parte da Rede Feminina de Combate ao Câncer, onde foi a primeira presidente, e está  sempre envolvida na organização de promoções para angariar fundos, seja em benefício do Hospital de Gaspar ou da Rede Feminina. Há 17 anos faz parte do Conselho do hospital e pede doações de roupas para o Brechó do Hospital.

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“Uma coisa que sempre gostei é de ajudar. Meu irmão, que já faleceu, dizia que quando eu era pequena, minha mãe me procurava e não me achava, pois estava na casa de vizinhos que tinham crianças pequenas ou bebês nascidos recentemente, ajudando”, conta, lembrando que a mãe ficou viúva muito nova (“meu pai morreu com 39 anos”). “Quando eu posso, eu ajudo”, decreta.

Dona Dica já está de passagem comprada para um Congresso da Rede Feminina em Pernambuco. “Já fui a Brasília e vou agora para Recife. Só estou triste porque não poderei ir à ordenação de Frei Evaristo Spengler em Marajó”, lamenta. “Eu e mais uma pessoa somos responsáveis pela crisma, perseverança e o intermediário na Matriz. Sou do Lions Clube, fazemos um trabalho de recuperação de camas hospitalares, andadores, cadeiras de roda. Temos mais ou menos 150 equipamentos. No 3º domingo, sou responsável pela liturgia das 19 horas”, acrescenta. Quer mais?  Ela já foi uma catequista atuante por longos anos. Quando pode ver televisão, só os canais com programação religiosa entram na sua casa. “Só assisto programas religiosos. Comigo é só com esses canais! Nos outros a gente só vê, crime, roubalheira, sexo”, critica.

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Para toda essa dedicação, ela garante que está bem de saúde. “Tenho um neto ortopedista que cuida da minha saúde. Ele me disse uma vez: ‘Vó,  a senhora só tem um probleminha numa vértebra’. Os joelhos chegam a doer um pouco, mas nada que me impeça de andar. Dirijo sempre”, tranquiliza a todos. O celular, um smartphone que maneja com facilidade, não para de se comunicar com ela…

E para os mais jovens, desanimados, Dona Dica tem uma receita: “Minha vida é assim: passeio, faço viagens, trabalho, rezo, e tenho muito coisa para fazer”.