O segredo por trás de uma grande festa
Moacir Beggo
Gaspar (SC) – Nem só de boa vontade se faz uma festa como a de São Pedro Apóstolo de Gaspar. Convenhamos, esta cidade tem pessoas generosas de sobra, mas para fazer um evento sem percalços, são necessárias muitas reuniões e um planejamento com antecedência.
Por trás da Festa de São Pedro está a coordenação do Conselho de Pastoral da Comunidade (CPC), que é presidido pelo pároco Frei Paulijacson de Moura e coordenado por Nivaldo Schmitz, que assume esta missão pela primeira vez, já que em outras três ocasiões esteve em outras funções, como por exemplo em 1987, como primeiro tesoureiro no antigo CAEP. Com eles, estão na barca de Pedro Apóstolo: Gertrudes Spengler, a Tuti, como vice-coordenadora; Maria Zelina Zimmermann, tesoureira; José Antônio da Costa, vice-tesoureiro; Leonor Darós, primeira secretária; e Rita Barbieri, segunda secretária. Esse grupo de pessoas tem a missão de conduzir a pastoral da comunidade.
Nivaldo conta que, quando foi indicado pelos coordenadores para a função, chegou a relutar um pouco. “Cada pessoa tem suas obrigações e ocupações. Sempre trabalhei em banco e, depois que me aposentei resolvi abrir uma confecção. Com o tempo, percebi que a empresa estava afetando a minha saúde e era hora de parar (Nivaldo é casado com Renata e tem duas filhas). Mas também já tinha um envolvimento com a Paróquia e acabei aceitando”, explicou, referindo-se ao fato de ser Ministro da Eucaristia e fazer parte de uma equipe da Pastoral da Saúde que visita os doentes uma vez por semana.
Nivaldo (à esq.) ao lado de Jacó Francisco Goedert, responsável pelas doações das bicicletas
Correndo de um lado para outro, buscando prendas, atendendo as pessoas, Nivaldo participa de sua primeira festa como coordenador. “A secretária da Paróquia me ajuda buscando alvarás na Prefeitura para a festa ser realizada. Sozinho não dou conta. Mas tudo está fluindo dentro de uma normalidade”, diz com calma, elogiando as equipes de voluntários que trabalham na festa. Para ele, essa partilha é muito importante. “Esse compromisso está na raiz da vida paroquial e da sociedade gasparense. Já é uma tradição. Todos, de alguma forma se envolvem com a festa. Veja a quantidade de doações que recebemos. Este ano ganhamos 28 cabeças de gado para o leilão (no ano passado foram 26). Para o povo, festa de São Pedro sem leilão de gado, não é festa”, explica o coordenador, revelando que antes de iniciar a festa temia pelo resultado devido à crise econômica no país. Felizmente, a crise não chegou como mostrou o sucesso da macarronada, do rodízio de sopas, do sonho, dos pastéis, do churrasco, do cachorro-quente especial, do leilão de gado etc.
Mas para Nivaldo, depois da Missa de confraternização dos trabalhadores da festa, na segunda-feira (4 de junho), essa comunhão precisará ser estendida para além dos limites do Salão Cristo Rei. “Vejo muitas pessoas que estão desligadas, afastadas da Igreja. Muitas estão envolvidas com movimentos sociais, mas não vêm à Igreja. Precisamos ir ao encontro dessas pessoas. O Papa Francisco está constantemente fazendo este chamamento”, observa. Segundo o coordenador, hoje a evangelização é feita pelos programas religiosos na TV. “Como aumentaram esses programas. Mas não basta só isso. Precisamos levar alegria e estar mais próximos”.
Para ele, no CPC a evangelização e a atenção às pastorais e movimentos devem estar em primeiro lugar. “É claro que nos últimos dez anos muito se fez em termos pastorais, mas precisamos animar outros movimentos e pastorais para não acabarem”, pondera. Nivaldo, contudo, reconhece que a Matriz terá de enfrentar dois desafios pela frente e com certa urgência: novo espaço para a churrasqueira (exigência do Poder público) e a reforma do telhado da Matriz. Uma das medidas para enfrentar esses desafios é reimplantar a Pastoral do Dízimo.
O coordenador agradece a Deus o fato de a Paróquia ser assistida pelos Franciscanos. “Só temos que agradecer pelo trabalho deles. Todos são muito dedicados e fraternos. Desde o pároco, o jovem Frei Paulijacson, o guardião Frei Carlos e Frei Lindolfo. Mas não podemos esquecer Frei José Bertoldi e Frei Germano Guesser que estiveram conosco até o início deste ano”, acrescenta. Na verdade, Nivaldo conhece muitos frades, pois foi seminarista franciscano (estudou até o último ano no Seminário de Agudos).
Além da Matriz, cada comunidade da Paróquia tem o seu CPC. Por sua vez, cada coordenador do CPC deve participar obrigatoriamente do Conselho Pastoral Paroquial (CPP), auxiliando o pároco no seu ministério sacerdotal. O novo CPP da Paróquia São Pedro Apóstolo será escolhido ainda pelo novo pároco.
Lídia (à dir.), aos 74 anos, coordena a equipe da cozinha. Faz esse trabalho há 51 anos na festa.
RESGATE HISTÓRICO
Frei Elzeário Schmitt, no seu livro comemorativo dos 158 anos da Paróquia, descreve a festa como o maior evento da cidade. “Constitui hoje, e de longe, a festa mais popular e aglutinante de toda esta região do Vale do Itajaí”.
Antigamente o evento mobilizava a cidade. Passados mais de 160 anos, a festa se perpetua ao sabor de cada época, desde a primeira festinha na selvagem margem esquerda do rio Itajaí, quando no dia 29 de junho de 1850, o Patrono de Gaspar recebia sua pequena e fiel comunidade, assim como a partir da primeira festa na margem direita, no dia 29 de junho de 1867 (149 anos), onde se encontra hoje a Matriz.
Os franciscanos se fixaram definitivamente em Gaspar na festa das Chagas de São Francisco, em 17 de setembro de 1900. Mas desde a chegada dos filhos de São Francisco de Assis a Blumenau, em 1892, cidades como Gaspar, Ilhota, Baú e Luís Alves eram atendidas pelos frades.
Maria Bernardete S. da Silva fez a doação de um bolo na quarta-feira e outra doação no sábado: um gesto que repete todo ano. “É gratificante ajudar e fazer parte desta festa”.