Íntegra da homilia de Frei João no 1º dia do Tríduo
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Nós sabemos que o tema do primeiro dia do Tríduo, a reflexão a que nós somos chamados a fazer nesta noite é “Família, Paróquia doméstica: Berço do amor, da misericórdia e do perdão”. Então, a liturgia de hoje, na festa de São Pedro, nos convida a fazer uma reflexão sobre a família.
E nós afirmamos que a família é uma igreja doméstica, uma paróquia doméstica. É como se nós falássemos que, antes de haver esta igreja, este templo, existem muitas outras igrejas que são as nossas casas, as nossas famílias.
Antes de nós sairmos de casa para rezar no templo, nós temos outra paróquia, que são as nossas famílias. Então, é como se Gaspar tivesse em cada rua muitas outras paróquias, muitas outras igrejas, que são vocês, que são nossas famílias, que são cada casa que vive a fé lá onde está localizada.
Então, veja que beleza o tema de hoje. Nossas famílias são igrejas domésticas, são paróquias domésticas. Como é bom sabermos que nós, famílias, nos sentimos bem em casa, na presença de Deus. Sentimos o calor, sentimos a fé, porque Deus está nesta casa chamada família. Antes de Deus estar nesse templo, nesse lugar, Deus está numa igreja chamada família.
E nós sabemos que o Papa Francisco tem uma grande preocupação pelas nossas famílias hoje. Aliás, a Igreja de um modo geral tem uma grande preocupação pelas famílias, porque podemos dizer que nossas famílias não estão mais sendo uma igreja doméstica. As nossas famílias estão deixando de ser igrejas domésticas. O Papa Francisco pede que resgatemos as nossas famílias como pequenas igrejas, onde os filhos possam aprender com os pais a lição do perdão, da fé, do amor, da generosidade.
E o Papa Francisco muito bem sabe que a sociedade está em crise, os valores estão se perdendo. Quanta violência, quantas coisas ruins na sociedade. Então, quando o Papa quer resgatar o valor da família, é porque ele sabe que essa crise que a sociedade está atravessando – crise de valores, crise social – é porque as famílias estão passando também por processos de crise. Então, atravessamos muito mais uma crise de valores. Onde que nós aprendemos os valores senão é dentro de nosssas casas? Então, veja bem: se as famílias estão em crise, a sociedade também vai estar em crise por falta de valores.
Então, fazer com que nossas famílias voltem a ser lugares de oração, de perdão, de amor, fazer todo esforço possível para que nossas famílias voltem a ser pequenas igrejas, pequenas paróquias. Esse é o grande desejo do Papa Francisco porque ele sabe que a Igreja começa lá nas nossas casas. Com certeza vocês sabem que, logo após a morte de Jesus e durante o tempo de Jesus, não existia igreja cristã. Existiam casas que abriam as portas para que Jesus pudesse se hospedar. Somente no século 2º, ou seja, duzentos anos após a morte de Jesus é que se começou a fazer igreja-templo, igreja-prédio, igreja-parede. Até então se rezava, se batizava nas casas. Então, hoje é preciso que nós voltemos ao nosso cristianismo das origens. Assim como nasceu. Lá no começo do seu nascimento. Lá onde as casas são por excelência lugar do cultivo da fé.
Por que nós podemos falar que nossas famílias são lugar de igrejas domésticas? Primeiramente, porque é lá que se cultiva a fé. Como foi que nós ouvimos pela primeira vez falar de Deus? Não foi em nossas casas? Com certeza. Antes de ouvir falar de Deus na nossa Paróquia, ouvimos falar de Deus em nossa casa. Por isso, nossa casa é uma Paróquia doméstica. Antes de nós vermos uma vela acesa na igreja, talvez nós assistimos nossos pais acender uma vela lá em casa. Não é verdade? Antes de ver alguém se ajoelhar numa igreja, nós vimos nossos pais se ajoelhar em casa diante de uma imagem.
A família, de fato, é uma igreja doméstica. Jesus também aprendeu a rezar com seu pai, José, ecom sua mãe Maria. Foi lá que foi cultivado o amor, a misericórdia no coração de Jesus. Se ele conseguiu amar a todos sem distinção é porque ele aprendeu amar lá em casa. Aprendeu amar sua mãe, seu pai, seus primos. Aprendeu a amar o bom ladrão, a prostituta, certamente porque viu José perdoando Maria e Maria perdoando José. Então, a família é a escola do perdão, o berço do cultivo da fé.
Podemos falar que hoje, se nós temos o confessionário na igreja onde fazemos a confissão, a nossa família é um confessionário onde os pais se perdoam, onde o esposo perdoa a esposa, onde os filhos se perdoam. O confessionário começa lá em casa. Por isso que nossa família é uma igreja doméstica, é uma paróquia doméstica.
Veja quanta relação existe entre igreja e nossas casas. Qual o lugar central da igreja, o mais importante da igreja? Certamente é o altar. O altar é o lugar onde consagramos o pão, partimos o pão, bebemos vinho. Qual deveria ser o lugar mais importante de nossa família? A mesa da refeição. O lugar onde partilharmos alimento, partilhamos a vida, conversamos, dialogamos, nos perdoamos, nos abraçamos. Então, se na igreja o altar é o centro, em nossas casas a mesa deveria ser o centro. E nós sabemos que o ritmo acelerado desse mundo se está perdendo a centralidade da mesa. Muitas pessoas não conseguem mais comer juntas. Não conseguem estar juntas. Então, vamos fazer de nossas casas pequenas igrejas. O confessionário, como já mencionei, acontece a cada dia com o perdão. Aliás, os esposos não deveriam ir dormir antes de pedir perdão. Quantos deixam para pedir perdão depois de dois ou três dias. Não conseguem se falar. E Jesus pede que nenhum casal, nenhum filho deveria dormir sem antes fazer a confissão, ou seja, pedir perdão mutuamente. Então, isso é igreja doméstica.
Quantas lições bonitas podemos aprender da Igreja. Jesus só foi o que foi porque na sua casa, Maria, José e Ele, lá de fato aconteceu a sua paróquia, a sua igreja.
Então, a sua casa é uma paróquia doméstica porque lá nos sentimos bem. Sentimos em casa. Já devem ter feito esta experiência. Você vai viajar, passa dois ou três dias ou uma semana fora, quando volta diz: “Viajar é bom, mas voltar para casa parece que é melhor ainda”. Não é por causa do quarto, da cama, mas porque lá tem o calor, a amizade, tem o perdão, tem a fé, tem o relacionamento, tem o aconchego, tem o abraço.
Nossas famílias precisam resgatar sempre mais essas virtudes que que existem na igreja: o gosto de estar juntos, o gosto de rever os irmãos, os pais. Isso é ser igreja. Assim como temos o prazer de estarmos aqui, não é? Nós falamos que na igreja o principal lugar é o sacrário, onde está o Cristo vivo. Quem é o sacrário na família? São os membros. O pai, a minha mãe, a esposa, o esposo. Eu trato minha mãe como se ela fosse o sacrário, eu trato meu pai como se fosse o sacrário, eu trato meus filhos como sacrários, como sagrados. Então, isso é fazer das famílias um lugar de igreja doméstica. Para não alongarmos muito, existe o contrário. Fazer da igreja Paróquia de São Pedro Apóstolo e de nossas comunidades também uma família, lugar de acolhida. Quantas igrejas que não são acolhedoras. Muitas pessoas não têm o prazer de estar na igreja porque falta a acolhida. Graças a Deus não é o caso da Paróquia São Pedro Apóstolo, porque vocês são muito acolhedores. A quantas igrejas falta o calor, acolhida, o perdão? Se nossas casas devem ser igrejas, nossas igrejas devem ser sempre mais famílias, acolhedoras, onde todos possam ser acolhidos, e bem.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Amém!
Frei João Reinert, 1º dia do Tríduo da Festa de São Pedro Apóstolo
Gaspar – Santa Catarina