Paróquia São Pedro Apóstolo - Gaspar, SC

Notícias › 10/11/2014

Eentrevista: Frei Paulijacson Pessoa de Moura

 

Moacir Beggo

A comunidade de São Miguel do Rio Grande do Norte vai celebrar, no dia 29 de novembro, o momento mais importante na caminhada vocacional de Frei Paulijacson Pessoa de Moura (clique aqui para visualizar o convite): a ordenação presbiteral. Segundo de cinco filhos do casal Elizabeth Pessoa Nunes e Francisco Escóssio de Moura, Paulijacson nasceu no dia 16 de dezembro de 1981 e foi em São Miguel que começou o discernimento vocacional quando conheceu a Congregação dos Servos da Caridade. Mas logo depois se identificaria com a história da vida de São Francisco de Assis e o modo de viver dos frades. “Ficava encantado – e ainda fico! – vendo os freis vestindo o burel franciscano. Queria então ser como eles”, contou.
Ao fazer o acompanhamento vocacional em São Paulo, no Convento São Francisco, foi convidado pelo então guardião Frei Johannes Bahlmann, hoje bispo de Óbidos, a ajudar o enfermeiro João nos cuidados com os frades idosos e doentes. Exatamente Dom Bernardo Johannes é que vai ordená-lo às 18 horas do dia 29 na Matriz de São Miguel Arcanjo. No dia seguinte, 30 de novembro, às 10 horas, celebrará a Primeira Missa naquela Paróquia. Residindo hoje na Paróquia São Pedro Apóstolo, Frei Paulijacson celebrará como presbítero pela primeira vez em Gaspar no dia 14 de dezembro, às 9 horas.

Site Franciscanos – Quais as suas expectativas em voltar à sua terra num momento tão importante de sua caminhada?
Frei Paulijacson – Estou muito feliz, mas confesso também que estou um pouco ansioso, pois foi lá onde iniciei a minha caminha vocacional. Ser ordenado presbítero na minha terra natal é, no fundo, colocar-me novamente, como no início, diante da minha identidade, dizer quem sou, por onde estou andando, o que me moveu e o que me move ainda hoje. Por isso, vem constantemente à minha mente e ao meu coração as palavras de Santa Clara: “Não perca de vista seu ponto de partida, conserve o que você tem, faça o que está fazendo e não o deixe, mas, em rápida corrida, com passo ligeiro e pé seguro, de modo que seus passos nem recolham a poeira, confiante e alegre avance pelo caminho da bem-aventurança” (2Ctln 11-13). Nesse sentido, sinto-me ainda profundamente grato a Deus pelo dom da vocação religiosa e sacerdotal e de poder celebrar este momento de alegria com os meus familiares, confrades, religiosos, presbíteros, conterrâneos e demais irmãos de outros Estados brasileiros, inclusive os mais de quarenta gasparenses que se farão presentes.

Site Franciscanos – Como foi esta experiência diaconal em Gaspar?
Frei Paulijacson – Foi muito positiva e o povo de Gaspar me ajudou muito. Alegrei-me por poder servir como diácono à Igreja, sobremaneira ao administrar o Sacramento do Batismo, ao assistir e abençoar o Matrimônio, ao proclamar o Evangelho e ao proferir homilias, etc. Enfim, pude servir ao Povo de Deus na diaconia da Liturgia, da Palavra e da Caridade.

Site Franciscanos – Como futuro sacerdote, como você recebe as colocações do Papa Francisco sobre a Igreja?
Frei Paulijacson – Recebo-as com muito carinho e contentamento, mas, ao mesmo tempo, consciente da responsabilidade de oferecer uma resposta concreta e coerente Àquele que me interpela hoje. “Como eu gostaria de uma Igreja pobre para os pobres”, disse o Papa Francisco poucos dias depois de sua eleição. Frase que nos reporta ao espírito do Pobre de Assis e que expressa, ao mesmo tempo, um desejo, um desafio e um projeto de Pontificado.
Entre muitos gestos e palavras proféticas do Papa Francisco, gostaria de lembrar a sua homilia em Lampedusa, Itália, lugar onde chegam, por barco, refugiados fugindo da miséria e da pobreza. O Papa, visitando Lampedusa e relatando um naufrágio ocorrido recentemente naquele local, afirmou em 8 de julho de 2013: “Quem de nós chorou por este fato e por fatos como este? Somos uma sociedade que esqueceu a experiência de chorar, de ‘padecer com’: a globalização da indiferença tirou-nos a capacidade de chorar! Peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, de chorar pela crueldade que há no mundo, em nós, incluindo aqueles que, no anonimato, tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada aos dramas como este”. Em outra ocasião, reiterou Francisco: “A Igreja Católica deve ser como um hospital de campanha após a batalha”, o que significa curar as feridas, com uma atitude de misericórdia que precede o julgamento, isto é, sem perguntar de que lugar chegam as vítimas.
O Santo Padre deseja ainda uma Igreja discípula-missionária, ou melhor, uma Igreja “em saída”, com portas abertas. Que saia em direção aos outros para chegar às periferias humanas. Por isso que, em profunda sintonia com o Papa Francisco, escolhi o lema da minha ordenação presbiteral: “Chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão” (Lc 10,33), tirado da parábola do Bom Samaritano.

Site Franciscanos – Quais as perspectivas para o ministério presbiteral com o Papa Francisco?
Frei Paulijacson – As perspectivas são as melhores possíveis. Mas, para tanto, é preciso “escutar”, “fiar-se em Deus” e “sair”, assim como Jesus o fez, deixando-se conduzir por Deus. A evangelização faz-se de joelhos, pois sem o relacionamento constante com Deus, a missão torna-se um ofício. Nessa perspectiva, para o Papa Francisco, o presbítero é ainda aquele que sabe relacionar-se, abaixar-se para ouvir melhor, dialogar com as ilusões dos outros, entendê-los, ter paciência histórica e admitir a possibilidade de errar, pois assim se contrai o “cheiro de ovelhas” (EG 24). Deve lançar-se para além de si mesmo e olhar as pessoas com o olhar de Jesus, o Bom Samaritano (Lc 10,25-37) da humanidade. Como pastor da misericórdia e da compaixão, o presbítero tem a incumbência de abrir o seu coração, deixar-se comover nas suas vísceras. E esse movimento interior traduz-se em obra prática, numa intervenção concreta para ajudar as pessoas. Francisco exorta os presbíteros a se comoverem diante das ovelhas, a estarem perto do seu povo e serem servidores de todos. Para ele, o critério pastoral que o padre deve evidenciar no seu ministério é a “proximidade”. É através da “proximidade” e do “serviço” que o sacerdote demonstra vísceras de misericórdia, demonstra-o em todas as suas atitudes, no seu modo de acolher, de ouvir, de aconselhar e de absolver. Numa entrevista, disse o Pontífice: “Uma mãe não se comunica por cartas com seus filhos, mas aproxima-se, afaga. E, nada mais que ser verdadeiramente mãe, é o que se espera da Igreja hoje”. Essas palavras incidem fortemente na transmissão da fé cristã, a qual sugere movimento, dinâmica que impele ao “encontro”. Como dizia um autor anônimo, “a fé começa pelos pés”. Uma Igreja que “sai”, uma Igreja que sente a força da sua missão, que não tem medo de proclamar a misericórdia de Deus. Ainda no mesmo discurso aos párocos da Diocese de Roma, o Papa continua: “O sacerdote é chamado a aprender isto, a ter um coração que se comove. Os presbíteros – permiti que use esta palavra – “ascetas”, aqueles “de laboratório”, completamente limpos e bonitos, não ajudam a Igreja. É necessário curar as feridas, e elas são numerosas. Há tantas chagas! Existem muitas pessoas feridas por problemas materiais, por escândalos, até na Igreja… Pessoas feridas pelas ilusões do mundo. Nós, sacerdotes, devemos estar ali, próximos destas pessoas. Misericórdia significa, antes de tudo, curar feridas”.
Portanto, o ministério presbiteral com o Papa Francisco deve estar sempre em sintonia com essa postura de “escuta da Palavra de Deus”, “sempre em saída”, “próximo às feridas do seu povo”, numa atitude de “acolhimento e misericórdia”.

Site Franciscanos – Por que vale a pena ser franciscano hoje?
Frei Paulijacson – Porque ser franciscano é partilhar a sorte dos pobres, dos sofredores, dos injustiçados, dos doentes e abandonados, sofrer na alma as suas dores, aceitar ser identificado com eles e participar dos seus sofrimentos, a fim de melhor os ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena. Não ter medo de se sujar ao lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso contribuir para promovê-los e para lhes dar mais dignidade e mais esperança. Este projeto evangélico-franciscano de vida vai ao encontro do que disse o Papa Francisco a todos os cristãos e particularmente aos padres de Buenos Aires: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às suas próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa em um emaranhado de obsessões e procedimentos”. Daí, nós, como franciscanos, buscarmos e afirmarmos como Jesus, a exemplo do Pobrezinho de Assis, que ninguém nos roubará a esperança (Hb 12,1) de lutarmos por um mundo melhor e de proclamarmos a alegria de viver o Evangelho. Por todas estas motivações que, digo alto e em bom tom: vale a pena ser francisca