Prometeu fazer manar fontes de água viva
Frei Almir Ribeiro Guimarães
Mês após mês, os cristãos têm o costume de se colocarem diante o Coração dilacerado do Senhor Jesus, aberto pela lança do soldado. Fazem-no na primeira sexta-feira consagrada ao Coração do Redentor. Desta vez convidamos nossos leitores a passarem uns minutos de silêncio, de meditação e de contemplação ruminando esta admirável página de São Gregório Nazianzeno (século IV). Trata-se de um hino de exaltação daquele que nos amou até o fim derramando a última gota de água e de sangue.
Foi reclinado no presépio, mas depois foi celebrado pelos anjos, assinalado pela estrela e adorado pelos magos.
Por que te maravilhas do que viste com os olhos enquanto não observas o que é percebido com a inteligência e o coração?
Foi obrigado a fugir do Egito, porém transforma em fuga o andar errante dos egípcios.
Não tinha nem aspecto nem beleza humana entre os judeus, porém, segundo Davi, era belo de rosto acima dos filhos dos homens; e também no cume do monte, como esplendor, resplandece e chega a ser mais luminoso que o sol, vislumbrando, desta forma, o esplendor futuro.
Foi batizado como homem, mas carrega sobre si os pecados como Deus; não porque tivesse necessidade de purificação, mas para que as próprias águas produzissem a santidade.
Foi tentado como homem, mas alcançou a vitória como Deus. Ordena-nos ter confiança nele como aquele que venceu o mundo.
Sofreu fome, mas saciou a milhares de pessoas, e ele mesmo tornou-se pão que dá a vida e o céu. Padeceu sede, mas exclamou: se alguém tem sede, venha a mim e beba; e também prometeu fazer manar, para aqueles que têm fé, fontes de água viva.
Experimentou cansaço, mas se fez repouso daqueles que estão cansados e oprimidos.
Sentiu-se extenuado pelo sono, porém caminha ligeiro sobre o mar, repreende os ventos e salva Pedro que estava a ponto de ser submergido pelas ondas.
Paga os impostos com um peixe, porém é rei dos arrecadadores.
É chamado samaritano e possuído pelo demônio, mas leva a salvação àquele que, descendo de Jerusalém, foi assaltado por alguns ladrões.
É reconhecido pelos demônios, porém expulsa aos demônios, e impele as legiões de espíritos malignos para precipitarem-se ao mar, e vê o príncipe dos demônios, quase como um relâmpago, precipitar-se do céu.
É agredido com pedras, mas não é preso.
Suplica, porém acolhe aos demais que pedem.
Chora, mas enxuga as lágrimas.
Pergunta onde foi sepultado Lázaro, pois realmente era homem, mas ressuscita Lázaro da morte à vida, porque de fato era Deus.
É vendido por pouco preço: por trinta moedas de prata, mas, entretanto, redimia o mundo a grande preço: com seu sangue.
É conduzido à morte como uma ovelha, mas apascenta a Israel e agora também o mundo inteiro.
Está mudo como um cordeiro, mas ele é o próprio Verbo, anunciado no deserto pela voz daquele que clamava.
Foi abatido e ferido pela angústia, mas vence toda enfermidade e sofrimento.
É tirado do lenho onde foi suspenso, mas nos restituiu a vida com o lenho, e concede a salvação também ao ladrão – que pende do lenho -, e ignora-se tudo o que se revela.
É-lhe dado beber vinagre, e se nutre com fel. Mas quem recebe esta bebida e este alimento? Aquele que transformou a água em vinho. Saboreou aquele gosto amargo, aquele que era o próprio deleite e todo o apetecível.
Confia a Deus a sua alma, porém conserva a faculdade de tomá-la novamente.
O véu se rasga – as potências superiores se manifestam -, e as pedras de despedaçam, porém os mortos ressuscitam.
Ele morre, porém, volta à vida e derrota a morte com sua morte.
É honrado com sepultura, mas ressuscita do sepulcro.
Desce aos infernos, mas acompanha as almas ao alto e sobe ao céus e virá para julgar os vivos e os mortos e para examinar as palavras dos homens.
Lecionário Patrístico Dominical
Tradução e compilação Fernando José Bondan
Vozes 2013, p. 202-204