Frei Paulijacson será ordenado diácono domingo
Natural de São Miguel, no Rio Grande do Norte, Frei Paulijacson Pessoa de Moura será ordenado diácono, no dia 18 de maio próximo, pelo bispo diocesano Dom José Negri, PIME. Sua ordenação será às 15 horas na Catedral São Paulo Apóstolo de Blumenau, SC. Conheça como Francisco entrou duplamente em sua vida e o pensa este servidor da Igreja e da Ordem Franciscana.
Site franciscanos – Em primeiro lugar, fale de sua vida.
Frei Paulijacson Pessoa de Moura – Nasci em 16 de dezembro de 1981, em São Miguel, RN. Sou o segundo de cinco filhos. Fui batizado com o nome Francisco, em 16 de janeiro de 1982, fato desconhecido por mim até o ano 2000, quando, então, com 18 anos de idade fui procurar o meu batistério para ser crismado. A secretária da minha paróquia procurava minha certidão de batismo, inutilmente, pelo meu nome, Paulijacson. Ora, pelo nome dos meus pais e padrinhos descobri que meu nome de batismo é Francisco. Fiquei surpreso e ao mesmo tempo curioso para saber o que tinha acontecido. Nem meus pais sabiam disso. Soube que, quando o padre achava o nome do batizando um tanto incomum, como é o meu nome civil – Paulijacson –, ele simplesmente colocava um nome mais conhecido ou dava algum nome de santo. No meu caso, chamou-me de Francisco. Quando fui ser crismado, perguntei à coordenadora da Crisma o que diria ao bispo no momento em que perguntasse por meu nome. Ela respondeu: “Fala Francisco”. E assim o fiz. Ou seja, meu nome cristão é Francisco, mas o civil é Paulijacson, pois em nenhum dos meus documentos consta o nome Francisco. Quando soube já era tarde demais (risos). Enfim, gosto do meu nome civil e gosto mais ainda do nome Francisco. Sobretudo quando conheci a história de Francisco de Assis e me encantei com o seu testemunho de vida. Recentemente, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, ao ser eleito Papa, escolheu o nome de Francisco: um motivo a mais para me alegrar.
Meus pais sempre trabalharam no comércio. Até decidir pela Vida Religiosa trabalhei com eles. Sempre participava das missas, mas até os 15 anos de idade pensava em ser médico. Nunca tinha passado pela minha cabeça em ser religioso ou padre. Mas aos poucos, depois de fazer algumas experiências de namoro, festas, como qualquer outro jovem da minha idade, sentia que faltava alguma coisa. Tudo aquilo, mesmo sendo muito bom, não me completava, sentia certo vazio. Perguntava-me: “Meu Deus, que sentido tem a vida?” “O que vou fazer da minha vida?” “O que realmente me faz feliz?” Assim como São Francisco, eu, sem o saber, fazia alguns questionamentos parecidos: “Senhor, o queres que eu faça?” Fiquei algum tempo com tais indagações.
Site franciscanos – Então, começou o seu discernimento vocacional?
Frei Paulijacson Moura – Isso. Certo dia, um jovem amigo da família, que na época morava em Brasília, como aspirante da Congregação dos Servos da Caridade, estava de férias na minha cidade e veio almoçar na minha casa. Ele começou a contar como era a vida deles no convento: oração em comum, trabalhos diversos, pastorais, esporte, vida comunitária, etc. Ao ouvi-lo, pensei: “É esse estilo de vida que quero para mim”. A partir daí fui me engajando na Igreja, nas diversas pastorais, e fui fazendo toda uma caminhada de discernimento vocacional.
Engajei-me em algumas pastorais da minha comunidade – Igreja Matriz São Miguel Arcanjo – para começar um discernimento vocacional mais profundo. O testemunho do jovem aspirante despertou em mim a vontade de ser padre. Mas, desde o início, tinha claro: queria ser padre religioso. Na casa dos meus avós maternos, encontrei algumas revistas dos Frades Franciscanos Conventuais, “Cavaleiros da Imaculada”, nas quais era possível ver as propagandas vocacionais da OFMConv. Identifiquei-me de imediato com a história da vida de São Francisco de Assis e o modo de viver dos frades. O hábito franciscano sempre me chamou a atenção. Ficava encantado – e ainda fico! – vendo os freis vestindo o burel franciscano. Queria então ser como eles. Depois disso, escrevi para os Conventuais que tinham fraternidade em Fortaleza, CE, e participei de um encontro vocacional. Gostei do encontro e daí em diante ficamos nos correspondendo. Todavia, neste período, entre 16 e 17 anos de idade, comecei a participar do grupo vocacional da minha paróquia, formado por moças e rapazes, o qual era acompanhado pelas Irmãs da Sagrada Face, de origem italiana. A fundadora da congregação, Beata Maria Pia Mastena, queria que existisse também o ramo masculino da Sagrada Face. Infelizmente ela morreu sem realizar este projeto. No entanto, este sonho permaneceu no coração das Irmãs da congregação. Elas partilharam este desejo da madre fundadora conosco. Interessamo-nos por este bonito ideal e começamos a ser acompanhados por elas. Depois de quatro anos de acompanhamento vocacional, em 2002, entrei na Congregação da Sagrada Face, na qual dois jovens já faziam uma experiência em Fortaleza – CE. Fiquei um ano como aspirante e estudando filosofia. Mas neste tempo, o desejo de ser franciscano permanecia. Resolvi então pedir um tempo para melhor discernir a vocação e fui morar em São Paulo, em 2003, com minha irmã que lá residia.
Site franciscanos – Por que escolheu ser frade franciscano?
Frei Paulijacson Moura – Como sempre gostei de estudar, comecei a fazer um cursinho para vestibular. Com o tempo, fui percebendo que queria mesmo era ser frade franciscano. Estando em São Paulo, consegui o telefone do Convento São Francisco através de uma revista vocacional e liguei para o Frei Nazareno Lüdtke. Marcamos uma conversa e comecei o acompanhamento vocacional. Neste período, desisti do cursinho para vestibular, pois já tinha em mente ingressar no convento, e comecei a procurar trabalho. Frei Johannes Bahlmann, à época guardião do Convento e hoje bispo de Óbidos – PA, precisava de alguém que ajudasse o enfermeiro João nos cuidados com os frades idosos e doentes. Aceitei de prontidão o serviço e foi um tempo muito bom, de muita aprendizagem. Deste modo, participava dos encontros vocacionais aos domingos e trabalhava durante a semana, sempre no Convento. Assim, pude ver mais de perto como era a vida dos frades, o que me ajudou muito a decidir indubitavelmente pela vida religiosa franciscana. Após um ano de acompanhamento vocacional, ingressei no ano de 2004 no aspirantado, em Ituporanga – SC.
Site franciscanos – De forma concreta, como você pretende exercer o seu diaconato aí na Paróquia?
Frei Paulijacson Moura – Como o próprio nome já sugere, diácono significa criado, servidor, ministro. Esta definição traduz bem o ministério eclesial que irei exercer na Paróquia São Pedro Apóstolo de Gaspar. É um serviço (diakonia) da caridade, da Palavra de Deus e da liturgia. Estes três serviços não podem separar-se um do outro: encontram-se articulados sob o sinal comum do “serviço”. De forma concreta, ministrarei os sacramentos do batismo e do matrimônio, visitarei os doentes, darei bênçãos diversas, darei a bênção do Santíssimo Sacramento, farei a Celebração da Palavra, distribuirei a Sagrada Comunhão e farei pregações. Portanto, como diácono, colocar-me-ei inteiramente a serviço das comunidades e dos irmãos como servidor de todos.
Site franciscanos – Como está sendo a sua experiência na evangelização em Gaspar?
Frei Paulijacson Moura – Está sendo muito positiva e gratificante. O povo é muito generoso e bondoso. Acolheu-me de forma muito carinhosa e amiga. A fraternidade também me recebeu muito bem. Estou muito feliz, graças a Deus. Nesta experiência de evangelização, o Definitório Provincial me nomeou responsável direto pela FAV (Fraternidade de Acolhimento Vocacional) de Gaspar para acompanhar mais de perto os aspirantes que acolhemos. E, de modo geral, estou ajudando na formação dos agentes de pastoral. Acompanho as pastorais litúrgica, catequética e batismal, os grupos de reflexão bíblica e o Movimento de Irmãos. Sempre que possível também ajudo na Pastoral da Esperança. Enfim, tenho visitado muitas famílias, abençoando-as e benzendo suas casas.
Site franciscanos – Deixe, para terminar, uma mensagem àqueles que querem seguir Jesus Cristo, a exemplo de São Francisco.
Frei Paulijacson Moura – O cristianismo não é para pessoas moles, tampouco ser franciscano o é. Somente pessoas com coragem e determinação resoluta terão a força necessária para prosseguir neste caminho de discipulado, de seguimento. Cristo cria “bons soldados” não mimando-os, mas deixando-os passar por grandes dificuldades. A preparação militar, ou até mesmo o treino esportivo, são duros. Nenhum general orienta suas tropas dando-lhes o máximo de conforto e descanso. Nenhum técnico fortalece seus atletas sem dor e suor. Do mesmo jeito podemos nos preparar para passar por momentos duros na vida cristã-franciscana, porque o Senhor quer que fiquemos fortes e firmes, pois não há ressurreição sem cruz. Há tantas frustrações em nossa vida, às vezes nos amamos tão pouco, nos depreciamos tanto que afogamos em nós a alegria de viver, mas Deus ressuscitador pode despertar de novo nossa confiança e nossa alegria. Nossas lutas e sofrimentos não são em vão, mas devem ser vivenciadas pela experiência do Cristo ressuscitado. O exegeta suíço R. Pesch afirma que a experiência primeira dos cristãos consistiu em que “os discípulos se deixaram apanhar, fascinar e transformar pelo Ressuscitado”. Crer no Ressuscitado é saber descobri-lo vivo nos últimos e menores dos irmãos, convertendo-nos à compaixão e à solidariedade. Isto nos coloca em sintonia com o tempo pascal que estamos celebrando e celebrar a Páscoa é encarar a vida de maneira diferente, alegre e positiva, proclamando a todos a alegria do Evangelho. Deste modo, todos aqueles que querem seguir Jesus Cristo, a exemplo de Francisco de Assis, são marcados por uma intensa alegria. Alegria sim, mas alegria que nada tem de infantil e barulhento. Alegria que, apesar de sua intensidade, tem duração permanente, pois sua fonte é próprio Cristo ressuscitado. A alegria é expressão da concepção franciscana da vida. Daí que ser franciscano é partilhar a sorte dos pobres, dos sofredores, dos injustiçados, sofrer na alma as suas dores, aceitar se identificar com eles e participar dos seus sofrimentos, a fim de melhor os ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena. Não ter medo de se sujar ao lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso contribuir para promovê-los e para lhes dar mais dignidade e mais esperança.
Portanto, se é este espírito que o anima, jovem, venha ser franciscano! Deus haverá de reproduzir em você a vida dos grandes apóstolos dos tempos passados, dos Paulos, dos Franciscos, dos grandes missionários, etc. O verdadeiro seguidor de Jesus Cristo, como São Francisco o foi, deve ser como São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Assim, como franciscanos, queremos estar a serviço das novas relações que Deus quer estabelecer com os homens e mulheres, através do dom da fraternidade e da alegria. A fraternidade e a alegria, a que muitos anseiam, são possíveis em Jesus Cristo.