8ª Caminhada Franciscana da Juventude em Curitibanos
Frei Augusto Luiz Gabriel e Érika Augusto
Curitibanos (SC) – Viver as relações com gratuidade e ir ao encontro do próximo. Este foi o pedido do Ministro Provincial, Frei César Külkamp, aos quase 800 participantes da 8ª edição da Caminhada Franciscana da Juventude, realizada de 11 a 13 de janeiro na cidade de Curitibanos (SC). Durante a missa de encerramento, Frei César conclamou os jovens a viverem plenamente a cultura do encontro em todas as esferas de suas vidas. O tema escolhido para a Caminhada foi: “São Francisco e o Sultão: rompendo fronteiras no diálogo pela paz”, recordando os 800 anos do encontro de Francisco de Assis com o Sultão em Damietta.
A abertura ao diferente, a acolhida e a gratuidade foram intensamente vividos nestes dias de experiência. No total, os jovens caminharam 62 km durante os três dias entre as cidades de Frei Rogério e Curitibanos. Ajudaram na organização do encontro Frei Roberto Carlos Nunes, Frei Miguel Cruz e Frei Camilo Martins, da Paróquia Imaculada Conceição de Curitibanos, leigos da Paróquia, jovens do grupo Jovens Unidos Em Cristo Encontristas (JUCE), Frei Diego Melo, Frei Marx Rodrigues dos Reis e Frei Vitor da Silva Amâncio, do Serviço de Animação Vocacional, além da colaboração de religiosos e religiosas.
Participaram da Caminhada jovens vindos dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, além dos jovens vindos do Sul de Minas Gerais. Como em edições anteriores, a Caminhada contou com a presença de um grupo de jovens evangélicos, vindos de Lages (SC). Toda esta diversidade trouxe ainda mais riqueza nos momentos de oração e nas partilhas ao longo do trajeto.
Como Francisco, ser promotor da paz
Na sexta-feira (11), logo cedo, os jovens iam chegando para o encontro, que teve início na cidade de Frei Rogério, no Parque Sino da Paz, local dedicado às vítimas das bombas atômicas lançadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão. Eles ouviram a partilha do sr. Wataru Ogawa, de 89 anos. Ele é um sobrevivente do ataque e tinha 16 anos na época. Chegou no Brasil aos 32 anos, onde se estabeleceu. Durante o momento de oração, os jovens tocaram o sino, que veio do templo Daionji e foi doado em há 20 anos pela Província de Nagasaki. Na oração, os jovens pediram pela paz e para que nunca mais sejam feitos ataques como aquele, que vitimou milhares de pessoas.
Durante toda a Caminhada, o sino era o símbolo de que os jovens eram chamados à oração. Frei Miguel e os jovens da JUCE conduziram os momentos de mística, feitos através de encenações e testemunhos. O episódio do encontro de Francisco de Assis com o Sultão al-Malik al-Kamil, realizado em 1209, permeou todas as reflexões. A animação musical também ficou por conta da JUCE.
No primeiro dia, os jovens caminharam 15 km. Foram recebidos no almoço pela comunidade em Xaxim e no fim do dia no Tabuleiro. Ao terminar as atividades, eles foram divididos em diversas comunidades locais e hospedados em casas de família. No sábado (12), todos se encontraram novamente para sair em caminhada. Neste dia, eles caminharam cerca de 24 km, parando para almoçar na comunidade do Butiá, onde puderam conhecer a estrebaria e vivenciar um pouco da realidade do interior.
Já no caminho, por volta das 16h30, a chuva acompanhou os peregrinos. Apesar de todo barro no trajeto, eles não desanimaram. Seguiram caminhando até a Fonte da Misericórdia, local que acolhe dependentes químicos em tratamento. Lá eles puderam descansar e ouvir o testemunho de um acolhido. Em seguida, foram para a Comunidade São Luiz, para o encerramento do dia.
Buscar Deus nas coisas simples
Ainda era madrugada no domingo (13), quando os jovens começaram a chegar à Comunidade São Luiz. Frei Diego Melo conduziu a reflexão e falou sobre a simplicidade de Deus. Ele leu o texto da Maria José Meirelles Carvalho, a Mazé. Ela mora em Bauru e sofre de esclerose lateral amiotrófica. Ela foi uma figura marcante nas Missões Franciscanas realizadas na cidade paulista e desde então, é uma intercessora dos jovens.
No texto, intitulado Simples Assim, Mazé fala sobre a simplicidade da fé. Em sua fala, Frei Diego pediu que os jovens buscassem, neste trecho da caminhada, um encontro pessoal com Deus. “Deus precisa ser procurado para ser encontrado”, afirmou o frade.
Ele acrescentou que a Caminhada Franciscana não pode ser apenas um evento ou uma forma de atividade física, mas que os jovens precisam buscar algo mais. “É preciso descobrir o tesouro da fé em Deus, a presença e o amor de Jesus. Senão é loucura isso que nós estamos fazendo. Nós, os frades, queremos que vocês amem, não a nós, mas Aquele que nós amamos”, animou.
Às 4h da manhã eles partiram em direção a Lagoinha. Uma procissão iluminada com velas passou pelas ruas da cidade. Rezando o terço em pequenos grupos, eles chamaram a atenção dos moradores locais que, apesar da madrugada, saíram de suas casas para ver a movimentação. Eles foram acolhidos às 6h pela comunidade local com muita festa, fogos e um grande café da manhã. Em seguida, deram continuidade ao trajeto do dia, que somou 23 km.
“Fazemos a mudança não com armas, mas com a gratuidade”, afirma Dom Severino
Por volta das 9h, os peregrinos e as famílias participaram da Celebração Eucarística no Campo da Roça de Baixo. A Missa foi presidida pelo bispo franciscano Dom Severino Clasen, bispo de Caçador (SC) e concelebrada por Frei César Külkamp; Frei Mario Tagliari, definidor provincial, que é natural de Curitibanos e outros frades.
Em sua homilia, ele destacou que Francisco de Assis, em sua época, surpreendeu. “Francisco traz o novo. Quando a Igreja se vestia de armas e espadas, ele vai anunciar a Boa Nova, encontra-se com o Sultão. Ele não leva nada. É o despojamento, o desprendimento. É a consciência da imagem de Deus que ele tem. É um Deus diferente do que a hierarquia da Igreja pregava. Não era um Deus armado, violento, vingativo”, afirmou o bispo.
Dom Severino destacou ainda a importância da gratuidade nas relações, assim como São Francisco mostrou com o seu testemunho. “Trazemos a mudança no mundo não com armas, mas com a força do amor, com a gratuidade. Hoje, em 2019, tenho o grande prazer de poder celebrar com vocês a mesma experiência que brota do passado. Vocês estão fazendo a mesma experiência de Francisco de Assis. Ele foi a pé com seu grupo de aventureiros ao Egito. E lá ele marcou tanto, que 800 anos depois estamos aqui celebrando os mesmos fatos”, salientou o franciscano.
Ele concluiu sua homilia afirmando que é preciso resgatar a essência do carisma franciscano, a espiritualidade da cruz e da carne. “Nosso modo de vida é seguir Nosso Senhor Jesus Cristo pobre, humilde e crucificado. A cruz é enfrentamento, é ir às últimas consequências. A ressurreição não vem antes da cruz. A carne é a relação, a fraternidade, o estar junto, ser irmão. Se nós entendermos isto, teremos uma grande herança desta Caminhada: vivermos este Deus da misericórdia, de Jesus de Nazaré”, concluiu Dom Severino, que confessou que a Caminhada é a realização de um desejo antigo, quando ainda quando era o responsável do SAV na Província e participou de um evento semelhante em Assis.
Homens e mulheres do encontro
Ao final da celebração, Frei César dirigiu-se aos presentes e afirmou que um dos legados da Caminhada é o desafio de ser homens e mulheres do encontro. “Francisco se fez o homem-encontro. Por isso conseguiu tantos frutos bonitos. Podemos dizer que o legado da Caminhada Franciscana seja o pedido para sermos homens e mulheres do encontro. Que possamos, cada vez mais, abraçar as pessoas que passam pelo nosso caminho”, pediu.
Após a missa, os jovens caminharam os últimos 10 km até a matriz da Imaculada Conceição. Na chegada, muita alegria e emoção pela conclusão do percurso. Na igreja foi preparado um bonito momento de mística. Eles foram convidados a depositar um pouco de incenso, que eles carregaram durante todo o percurso, em vasilhas que estavam no presbitério diante do Santíssimo Sacramento. Com cantos e motivações, os jovens fizeram uma bonita celebração, elevando a Deus suas preces, suas feridas e tudo o que os afasta de Deus e do próximo.
Na última encenação feita pelo JUCE, os jovens, que estavam de túnicas representando os apóstolos durante toda Caminhada, chamaram diversas pessoas para sentarem-se à mesa do Senhor. Em seguida, um vídeo foi exibido, em homenagem a duas jovens que participavam dos eventos do SAV e faleceram em 2018: Juliana Mori, de Balneário Camboriú (SC) e Camila Graciano, de Agudos (SP).
O rosto da juventude na Província
Frei César Külkamp avaliou positivamente a 8ª edição da Caminhada Franciscana da Juventude. “A animação dos jovens contribui muito para nossa evangelização. Dá um colorido renovado para tudo aquilo que somos e fazemos, nos mais diversos campos de evangelização”, afirmou. O Ministro Provincial destacou ainda que este tipo de atividade atinge diversos grupos, inclusive pessoas de outras confissões religiosas, mas que se identificam com o jeito franciscano de ser e estar no mundo.